Ando pelas ruas da cidade, é verão, mas não faz sol.
A cidade esta normalmente caótica, pessoas indo e vindo, todas buscando ou correndo atrás de algo, um emprego, um amor, algum trocado, um pileque, um cigarro, ou qualquer trago.
Alguns correm atrás do tempo, esses me dão pena.
Com o tempo me tornarei como eles, e você também!
Há vezes que simplesmente não conseguimos ficar sós, mas não quero encontrar ninguém, nada pode suprir ou substituir o que quero, seja lá o que isso for. Vem sempre aquele vazio inquieto, o silencio incomoda, há os muito felizes, eles também me incomodam. Os que amam demais,ah como os odeio, são felizes demais, tristes demais, esperançosos demais, céticos demais, chorosos demais, risíveis demais e inconstantes demais.
Eu não acredito mais nessa coisa, e meu asco é tanto que nem seu nome invocarei, sentimento terrível. Inevitavelmente ele transforma as pessoas, nos deixa egoístas demais, desacreditados demais e por fim confusos demais. Quantos demais, demais, demais, não me importo. A vida é demais pra mim!
Na rua conscientizei-me desse vazio, e de que o lugar que busco simplesmente não existe, mas continuo a caminhar, em meio a multidão um perfume doce invade meu nariz, gostaria de saber que tipo de droga era aquela. Meu peito se aperta tanto que acho que meu sangue não terá mais por onde passar, os olhos procuram por todos os lados.
Enraiveço-me, o que estou fazendo, não há nada o que fazer, sentimentos mil me possuem, talvez saudade, deve ser, talvez isso me explique esse vácuo, não, não é um vácuo. É um peito vazio cheio de coisas estranhas, as lembranças hoje são turvas, lembro de beijos, abraços, sorrisos e todos eles hoje são frígidos.
Com o tempo isso tudo azedou, com uma amargura doce.
Melancolia.
Mas resta a vontade, irrequieta saudade, sim, saudade, não vou mentir, não quero assumir que isso me corrói, entro em conflito, o desejo de algo que não quero me ataca, minto, não quero entregar-me, ainda desejo.
Talvez seja algo mais, o que falta?
Aquilo que não ira acontecer, não é carência, as pessoas são carentes, todas elas, e alimentam isso de alguma maneira, mas o que quero é irreal.
Não, não, não, não! É real!
Corrosivamente necessário, aquele perfume fica em mim por todo o dia e um pouco mais. Ao senti-lo entro em alerta, aquele vazio desperta, mas há fantasmas por ai, por todos os cantos.
Todos eles passam rindo-se de mim, e eu continuo inutilmente os procurando.
Todos nascidos de um dia que nunca vi, mas aquele perfume ainda está aqui.
Incrustado em mim!