27 de out. de 2010

Humor.

Ando pelas ruas da cidade, é verão, mas não faz sol.
A cidade esta normalmente caótica, pessoas indo e vindo, todas buscando ou correndo atrás de algo, um emprego, um amor, algum trocado, um pileque, um cigarro, ou qualquer trago.

Alguns correm atrás do tempo, esses me dão pena.
Com o tempo me tornarei como eles, e você também!

Há vezes que simplesmente não conseguimos ficar sós, mas não quero encontrar ninguém, nada pode suprir ou substituir o que quero, seja lá o que isso for. Vem sempre aquele vazio inquieto, o silencio incomoda, há os muito felizes, eles também me incomodam. Os que amam demais,ah como os odeio, são felizes demais, tristes demais, esperançosos demais, céticos demais, chorosos demais, risíveis demais e inconstantes demais.

Eu não acredito mais nessa coisa, e meu asco é tanto que nem seu nome invocarei, sentimento terrível. Inevitavelmente ele transforma as pessoas, nos deixa egoístas demais, desacreditados demais e por fim confusos demais. Quantos demais, demais, demais, não me importo. A vida é demais pra mim!

Na rua conscientizei-me desse vazio, e de que o lugar que busco simplesmente não existe, mas continuo a caminhar, em meio a multidão um perfume doce invade meu nariz, gostaria de saber que tipo de droga era aquela. Meu peito se aperta tanto que acho que meu sangue não terá mais por onde passar, os olhos procuram por todos os lados.

Enraiveço-me, o que estou fazendo, não há nada o que fazer, sentimentos mil me possuem, talvez saudade, deve ser, talvez isso me explique esse vácuo, não, não é um vácuo. É um peito vazio cheio de coisas estranhas, as lembranças hoje são turvas, lembro de beijos, abraços, sorrisos e todos eles hoje são frígidos.

Com o tempo isso tudo azedou, com uma amargura doce.

Melancolia.


Mas resta a vontade, irrequieta saudade, sim, saudade, não vou mentir, não quero assumir que isso me corrói, entro em conflito, o desejo de algo que não quero me ataca, minto, não quero entregar-me, ainda desejo.

Talvez seja algo mais, o que falta?
Aquilo que não ira acontecer, não é carência, as pessoas são carentes, todas elas, e alimentam isso de alguma maneira, mas o que quero é irreal.

Não, não, não, não! É real!

Corrosivamente necessário, aquele perfume fica em mim por todo o dia e um pouco mais. Ao senti-lo entro em alerta, aquele vazio desperta, mas há fantasmas por ai, por todos os cantos.

Todos eles passam rindo-se de mim, e eu continuo inutilmente os procurando.

Todos nascidos de um dia que nunca vi, mas aquele perfume ainda está aqui.

Incrustado em mim!

23 de out. de 2010

São Paulo

Numa tarde chuvosa de maio, as lágrimas da chuva empoçam, nas depressões do frio asfalto da avenida central.
Como espelhos, elas refletem o triste e vazio de nossa cidade, tão solitárias quanto as pessoas as gotas também o são.

E por isso se aglomeram nas irregularidades do piche, uni-vos ó gotas do céu, pois são prantos de sol. Que hoje se apagara.
E refletido nelas estão, pessoas vazias, apressadas, uns para cá e outros para lá. Esquivando-se uma das outras, quase coreografia, daquelas jamais ensaiadas.

E seguem como gotas, sem sol, sem céu, sem perdão e arrebentam-se no chão.

20 de out. de 2010

R.E#4

Bem, nem sei o que dizer.
Essa segunda carta foi desnecessária, não sei qual foi a sua intenção com ela, mas tento ver que tenha sido uma falha na nossa comunicação na/e troca de cartas, que só havia começado.
E infelizmente ela me fez ressurgir muitas coisas que achei que estavam enterradas, quanto toda àquela história acho que nem devemos entrar neste assunto, mas acho que será meio inevitável.
Não quero tuas desculpas, acho que nunca quis, elas nunca supririam nada do que aconteceu, só me fariam te achar mais ridículo do que achei na época e as vezes ainda acho ao lembrar de tudo aquilo. Aquele texto me deu nojo, você não tinha direito algum de escrever tudo aquilo, mesmo que não tenha sido a sua intenção, o que tentaram me explicar depois.

Mas lembrar tudo aquilo me trás uma sensação muito esquisita, algo paradoxal, o que você fez nunca terá perdão, mas as vezes me sinto meio culpada por tudo ter chegado ao ponto que chegou, na época toda a culpa e asco que sentia foi derrubada por aquele texto, que me gerou um impulso de ódio e repulsa por você.
Hoje aquilo ainda me dói, de diversas maneiras, não sei explicar, e se soubesse também não o explicaria, muito menos pra você. Toda aquela confiança e acalanto que havia por você foi destruído, você se aproveitou de algo que não lhe pertencia.

E é isso que não tem perdão, e isso que é o mais engraçado, eu ainda confio em você, de um modo estranho eu sinto isso, mas em certos quesitos isso tudo cai sem perdão.

E nesses momentos esse turbilhão de lembranças e sentimentos voltam de uma maneira que eu jamais saberei exteriorizar, não consigo ver como as coisas poderiam ter sido diferente, acho que ambos pecamos amargamente um com o outro. Não quero lhe atribuir toda a culpa, estaria sendo injusta tanto com você quanto comigo.

Entretanto acho melhor esquecermos isso, e tentar recomeçar de um modo diferente, ainda mais agora com essa distância, que é a única maneira que acho que poderíamos nos relacionar de uma maneira saudável ou quase.


Não sei se você me responderá, beijos.
15 de março de 2012.

Aporia?

Os beijos passaram a ter gosto de sangue,
os ventres libidinosos, mas mórbidos.
Quantos ainda virão, até a cura.
Não encontrada em garrafas de vinhos.
E quantas foram!
Sangradas copo por copo.
Brindemos: Ó ingrata esperança!
Na vida flutuo aflito,
até que a cura me pegue,
com o esquecimento do seu perdão.
Ou que venha a morte,
remédio inevitável do tempo,
que agora não tem mais razão!

16 de out. de 2010

LA, I miss you!

Como num reino,
os lençois servem de cobertura.
Para nosso palco de amor,
mas ali não há expectadores,
não há curioso, o carinho não avergonha-se.
Nele dançamos eu e tu,
conto as pintas em sua nuca.
Me beijas com timidez,
minha favorita é essa daqui!
e ri de corpo nu,
oras como posso ainda me enrubescer.

14 de out. de 2010

Poligamia.

O que buscas é utópico.
Inexistente.
Nem Kant, nem Nietzsche,
Dostoiévski ou Freud
te explicaram/ão isso.
Muito menos eu.
Essa liberdade nunca existirá,
pois ela é egoísta demais meu bem.
Compreenda.
Inevitavelmente alguém irá se machucar,
pode ser que seja você.
Não agora, mas um dia,
tenha certeza!
E é o que é.
Só não traímos quando traímos a nós mesmo.(?)
E como fica?
Qual será o preço por tudo isso?
Ou nada disso.
Nossos atos geram filhos de angustia,
conseqüências impassíveis.
E essa liberdade te levara a solidão.
Mas será livre,
para morrer,
só!

( com seu cão a lamber o seu cadáver!)