29 de set. de 2010

Lixo democratico!

Após postar o texto "Chapa 00" um amigo me encaminhou um blog com uma suposta simulação de uma eleição onde todos anulassem seus votos e infelizmente esse é o quadro ridiculo e escroto que veriamos, onde mais uma vez o gorverno filho da puta não deixa pregas soltas, e nos manimupula mais uma vez, vejam o link a baixo e se caguem de ódio, eleições não são solução de merda nenhuma, e dessa vez com base digo, estamos com merda até dentro da boca!

http://tyrannosaurus.wordpress.com/2010/09/29/a-farsa-das-eleicoes/

Agradecimentos ao tyranosauros, do qual eu peguei o link!

Chapa 00!

Agora o pronunciamento do candidato a presidência, o Sr. Ninguém, pela chapa 00.

_ Boa noite meu caro eleitorado, vim aqui, ser sincero com todos vocês, o primeiro turno está chegando, como todos sabem, dia três de outubro vocês decidirão nas urnas o futuro de nosso país.
E por isso vim fazer meu último discurso para tentar convencê-los de meus planos de campanha, e quem sabe conseguir o vosso voto! Que pra mim e para todo o país será muito importante!
_Ultimamente tem sido claro nas pesquisas o emparelhamento entre a esquerda(que engraçadamente hoje se tornou a direita?) e a suposta direita, mas além disso fica ainda mais claro que a maioria das pretensões de votos estão para a esquerda(a antiga, é claro!).

_ E sinceramente eu acho tudo isso muito engraçado, essa suposta inversão de posicionamento, mas a questão que venho por a favor de futuros seguidores no eleitorado é.Pois vejam bem, muitos dos eleitores, sinceramente, sinceramente estão insatisfeitos ou desacreditados, tanto da esquerda quanto mais da direita. Não votaremos na direita por ela ser egoísta e seus candidatos terem uma política totalmente voltada para a capital de lucro, e de fato não levarem em conta as causas populistas e muito menos ligarem para as bases de um país decente, como a educação, saneamento básico e a saúde pública. Além das possíveis privatizações de nossas estatais, como vimos em mandatos anteriores. E afinal, são a direita, que agora é esquerda (nossa antiga direita, vejam bem!).

_Agora de contra ponto, pensemos, e os esquerdistas?(a antiga!)
Jamais votariam nessa antiga direita,agora esquerda, pela razões que eu já citei, e além de terem um ideal em busca de um mundo mais igualitário, todos filhos bastardos de Marxs, mas infelizmente eles não vêm que não queremos apenas um pais com igualdade de classes, principalmente entre patrões e empregados, como diria Marxs, a famosa burguesia e o proletariado, sim, de fato buscamos uma igualdade, mas como atingir-la, sem um investimento devido na educação que pode inverter os papeis. Mas lembremos a questão não é inverter tudo isso, é equalizar exato? Então por favor, nada de comunismos exagerados e imaturos, os tempos são outros e os problemas são os mesmo, só que muito mais complexos do que uma mera causa operaria! O que quero dizer com isso,é. Que não coloquem um candidato qualquer no nosso congresso apenas por ele ser de esquerda(antiga!), o que venho lhes pedir é que votem por acreditar em algo, nem que seja na descrença de tudo isso. E é ai que venho conquistar o vosso voto!

_ Esse partidarismo que vemos, de fato não existe mais, nenhum desses candidatos realmente levanta uma bandeira, assume uma causa, meramente estão acoplados em seus partidos políticos, e essa falta de posicionamento fica claro quando acontece o segundo turno, onde mil coligações começam a aparecer. E muitas de tamanha hipocrisia, um verdadeiro mascaramento político, convenhamos! A palhaçada é tão grande e explicita que logo criarão um partido dos apolíticos (P.A).

_E para acabar com os rodeios, serei direto ao contrario dos outros candidatos, Votem Nulo, VOTEM EM MIM, ESCOLHAM A LEGENDA 00!
_ Eles tentam te enganar com um falso discurso democrático, te dizendo que anular seu voto é renegar seu direito a democracia, ou pior abdicar seu direito a cidadania, seu direito de cidadão! E quanto ao seu direito de não votar em ninguém por não acreditar em nenhum deles?!
_ Anular teu voto não é se tornar um cidadão menos político ou até apolítico, é simplesmente exercer sua cidadania assim como alguém que vota na direita, ou na esquerda (antiga ou nova, tanto faz!).

_ O que eu venho propor, é um questionamento na nossa política em geral, e no nosso método eleitoral, se eu ganhar mostrarei a todos vocês, que eu, Sr Ninguém no poder obrigarei o pais a rever essa bagunça toda, que eles democraticamente escondem de vocês!

_ E lhe garanto também, que com a ausência de alguém no poder não haverá um novo golpe militar, pois acredito que as políticas internacionais não permitiriam um novo ditador em nosso país, e nós muito menos, apesar da falsa liberdade que temos, ainda somos muito fortes e temos força para deter qualquer motim militar que possa surgir! Saiamos para as ruas, para que eu, Ninguém fique no poder! E que nossos métodos eleitorais sejam revistos, e se tornem justos, e se não forem, morreremos por isso! Até que uma Anarquia se institua em nosso pais, ou algum outro país meta seu dedo fétido em nossas políticas e voltemos a ser a colônia que nunca deixamos de ser, por não pensarmos e nós mesmos! Não façamos uma revolução Fidelista, e sim uma revolução “Brasileiriça”, Antropofágica e crua!
_ VOTEM EM MIM! VOTEM NULO! VOTEM 00!
_ Boa noite.
Termina aqui o horário eleitoral obrigatório!

21 de set. de 2010

Esperança.

Esperança.
Perderemos a guerra.
Perderemos dinheiro.
Perderemos os pais,
perderemos as mães,
alguns até deus perderão.
Perderemos a coragem.
Perderemos a vantagem.
Perderemos a identidade,
se essas algum dia existiram.
Perderemos um cão,
Perderemos amores.
Perderemos o coração,
se esses também existiram.
Perderemos a paixão.
Perderemos até a convicção.
Perderemos a liberdade,
que realmente nunca existiu.
Perderemos o pão.
Perderemos a razão.
Perderemos a vida,
que só foi ilusão.
Mas não perderemos a esperança,
afinal o mundo não é tão ruim assim!

Quanto aos hostis.

As pessoas são hostis umas com as outras, todas elas.
Não por maldade de gênio,o mundo todo é bem hostil com todos nós.
As pessoas se machucam, pela vaidade, por egoismo.
Somos sempre levianos com os demais, nossos problemas são sempre muito maiores.
E a cada esquina se vê um coração descrente do mundo,
e em cada criança eu vejo um triste ser humano em potêncial.
Até a esperança vai se perdendo com o tempo.
Por que somos todos muito hostis um com os outros.
Mas há ainda os que acreditam numa pureza,
ou em algo qualquer que os torne mais tolos.
Mas no fundo, eles também serão hostis.
Como eu também o sou!
E o que há de ser do mundo?
Sinceramente eu não sei, isso não é problema meu.

Semiosia.

O inicio começa assim,
sempre com a primeira letra,
nem sempre começa com I.
Depois de umas dúzias de coisas,
a poesia parece sair.
É no papel que ela vai se formar,
a semente que brota no peito,
se dispersa em palavras no ar.
Corre rápido entre as paredes,
já pode tudo figurar.
Carro, vela, pomar,
até as coisas subjetivas,
como o verbo sonhar.
O que seria das imagens,
sem uma palavra pra se enamorar.
oan are arp et raogam aidil
e legível seria um rabiscar.

Branquinha.



Fico dias sem te encontrar,
mentalmente não vejo a hora,
a hora de te trombar.
Só de pensar em você,
minha boca se enche de água,
as pernas ficam dormentes
e eu logo começo a suar.
O peito esquenta num segundo,
o coração só quer palpitar,
a cabeça tenta me controlar.
Meus amigos me advertem,
deixa essa coisa pra lá.
Eu já sei o mal que ela me faz,
quando a vejo meus olhos ficam vermelhos,
acho quase que vou chorar.
Ela me traz alegria, e as vezes me faz minguar.
Sinto falta dessa coisa molhada,
quando a tenho prefiro não ter,
o orgulho vem sempre a brigar.
Não posso viver sem ela,
mas quero lhe abandonar
E de repente.
Quando a beijo meu corpo se esquenta,
prometo nunca mais lhe largar,
eita cachaça da porra!

Poeminha de observação

Num dia qualquer,
de lua ou de sol,
o poeta quer escrever,
mas não pode rimar sonhar com amar.
por que rima feita de verbos,
sempre acaba muito vulgar.

Brincadeira de amor.

Ironicamente te dói o que te amo.
Engraçadamente te afastas o que me queres.
E vivemos a se magoar, a sorrir e a chorar.
Até que um dia do amor ou fuja eu,
imaturo por me entregar,
ou fuja você pelo medo de amar.
Na despedida penso eu,
que nosso dia nunca virá,
Nesse dia pensa você,
que isso realmente nunca será.
Por que ironicamente,
O teu amor me doía
E engraçadamente o meu querer me afastava.
Amanha vejo eu que chorei,
por pensar deixar me enganar.
Depois de amanha chora você,
por não ter tentado tentar.
Se do amor fugimos nós dois,
é que não soubemos amar.
Um dia nos vemos na rua,
aparentamos nenhum penar.
Mas tu vira a esquina chorando,
E vazio passo a te odiar.
E com os anos seguimos os planos,
e a vida a nos derrubar.
Te odiei por tanto te amar.
Chorou por me amar também,
Se odeia por ainda me amar,
E eu te odeio por nunca me amar.
E o amor ri-se de nós,
por não sabermos brincar.

20 de set. de 2010

Câncer.

Não precisamos do perdão.
Nem de Deus nem de ninguém.
Ele não nos acalantara ao vermos que ferimos alguém,
Ou nos fará melhor na hora de dormir.
E nem que as pessoas deixem de se odiar ao lembrar quem os feriu.
O remorso nunca vai.
Nada irá mudar do que foi feito, e o que resta é amargura.
Indiferença!
Inevitavelmente as pessoas irão se machucar.
E virá o nojo, virá a náusea.
Hoje não estamos bêbados e sinceros
estamos racionalmente mascarados.
Amanha ou depois, alguém irá chorar
E não haverá perdão!

#1

Em casa, horas de tédio embaladas por músicas que tentassem facilitar o processo, e depois algumas horas lendo, não gostava muito de ler, mas um dia li um livro que um amigo mais velho me emprestou, isso quando eu tinha uns dezesseis anos, e passei a ter gosto pela leitura, acho que só fui apresentado a ela de uma maneira bem ruim na escola. Aliás esse é um dos meus livros favoritos até hoje, bem que poderiam ler-lo a pedido da escola, ao invés daqueles livros antigos demais, que nada têm a ver com nosso cotidiano, além de serem um pouco maçantes. Quanto à música, sempre gostei, mas nunca fui muito de comprar CDs, gosto do elemento surpresa de escutar rádios, as vezes acontece de tocar aquelas músicas que eu tava pensando e de repente é ela que começa, ou até mesmo aquelas que a gente gosta mas nem lembra ou sabe o nome, ai toca e te deixa feliz, além disso é bom pra conhecer bandas novas. Ah... além dos CDs serem caros, o que é uma pena.
Fora da escola a vida era meio parada, afinal eu já estava com uma idade em que meus amigos começaram a trabalhar então eu não tinha o que fazer após as aulas, o que me levava mais uma vez a me ocupar com as coisas citadas acima, sem me esquecer do vídeo game, o melhor amigo dos solitários da nova geração. Então vou pular mais uma vez, pois acredito que o resto do meu dia não seja interessante.

No dia seguinte mais uma vez voltei à escola, um saco, as aulas são chatas, com exceção de algumas, mas meus professores são muito chatos, pelo menos boa parte deles. Estão sempre estressados, cansados ou algo do gênero, esses mal comidos de merda!E só conseguem porrinhar todos na classe, também, eles devem ganhar super mal, um dos meus únicos professores que presta está sempre com as roupas fudidas, mas mesmo assim ele é super descolado, mas deve se sentir desmotivado, não sei, deve ser foda trabalhar o dia todo pra ganhar um salário insuficiente pra suprir suas vontades. E o pior que assim eles nem conseguem ensinar nada, se isso melhorasse talvez eu gostasse da escola, ou melhor, eu gosto da escola, só não gosto de ver as aulas. Mas a minha turma também e repleta de cuzões, não respeitam nem as aulas dos professores legais. Poderiam simplesmente fazer como eu, se não gostam da aula, saiam delas, acho que é melhor do que atrapalhar o trabalho do fudido do professor que fica lá na frente horas tentando explicar aos berros o que causou a porra da primeira guerra, o único problema é que se nos pegam cabulando a gente entra numa fria danada. Mas vamos fazer o que? Eu saio da sala mesmo, não tenho saco de ficar assistindo aulas chatas, se pelo menos tivéssemos a liberdade de escolher apenas as matérias que gostaríamos, ao invés de ficarmos perdendo tempo em aulas inúteis. Acho que devia ter sugerido isso pros meus professores, sem ofendê-los é claro. Assisti a todas as aulas, uma proeza. Mais uma vez ao término do período, voltei pra minha vidinha pacata. E após o almoço, a vale lembrar, eu estudava de manhã, chegava a casa mais ou menos no horário do almoço, meu tio dizia que as escolas deviam voltar a ser integrais, acho uma grande besteira, se cinco horas podia já me dão no saco, imagina quase dez. Ele dizia que eu passava muito tempo sem fazer nada e que poderia usar esse tempo pra algo produtivo como ele fazia na sua mocidade, vai ver é por isso que hora ele é tão rabugento. Ficava horas e horas estudando aquelas bobeiras da escola, apesar de que eu me sinto entediado as vezes em casa, até toparia ficar mais tempo na escola, mas só se rolassem umas matérias diferentes, sei lá, poderíamos ter aulas de música, de desenho, tenho uns amigos que desenham muito e eu acho super interessante, gostaria de saber desenhar, a, esses tipos de coisas. Ou até mesmo futebol, e os outros esportes que o pessoal joga. Se o “nariga” cabula só pra jogar, talvez ele ficasse até mais tarde na escola só pra jogar. Acho que os outros caras também. As vezes rolava de fazer algo durante o período da tarde, algumas vezes até dar umas voltas com alguma menina da escola, e isso era legal, mesmo boa parte delas serem ou caretas e cheias de não me toque, ou então serem vulgares demais, eu gosto muito das garotas, gosto mesmo, mas elas não precisam ser vulgares e não estou sendo nem um pouco antiquadro, e olha que sou tarado por peitos. O lance é que algumas delas chegam a ser pior que homens, e é verdade. Não que elas estejam erradas, seria machismo meu aceitar que um homem possa ser vulgar e uma mulher não, eu só acho desnecessário e digo isso de ambos os sexos. Suas safadonas!
Mais uns dias de aulas, tardes entediantes, surpresas musicais na rádio e um pouco de leitura pra passar o tempo, o engraçado que eu nunca gostei de poesias, mas um dia desses encontrei umas poesias eróticas num livro do meu tio, isso ele esconde de mim aquele puto. E o mais engraçado que apesar de falarem de sexo elas são super bonitas, no fundo todo mundo gosta de sexo, só não sei de qual não é tio?

Outro dia de aulas, acordei meio atrasado, acho que vou ter que pular o muro pra entrar, outro dia, cheguei um pouco atrasado e o portão já estava fechado, mas eu não podia voltar pra casa se não minha família me exorcizaria, eles não deixam a gente entrar, não sabia o que fazer e não estava nem um pouco afim de pular o muro, por que a policia pegou um amigo meu pulando o muro uma vez e interpretou a situação de maneira errada, até ele conseguir se explicar foi uma confusão do caralho, o pai dele só faltou comer o rabo dele de tão nervoso que ficou. Além do mais o que eu ficaria fazendo na rua, esses putos das escolas só fazem regras pra afastar os alunos da escola, até o dia que ao invés da policia algum pirralho encontra com um cara doidão por ai e se fode. Ai eu quero ver como vai ficar. Enfim, tive que pular o muro, quase fui pego, me caguei todinho, mas deu tudo certo, o único problema foi pra entrar na sala, só consegui entrar pra segunda aula, entretanto o nariga respondeu chamada no meu lugar, quem nunca fez isso né. Mais uma vez aproveitei a zona que é a troca de aulas pra me aconchegar, vocês devem pensar que sou um verdadeiro vadio, mas não sou. Juro! Só sou um pouco preguiçoso, não sou daqueles que bagunçam e fodem com a sala toda, nunca fui. E esses caras que bagunçam normalmente não respeitam ninguém, nem mesmo os professores, mas quem afinal respeita? Acho que nem os adultos. E esse folgados me tiram um pouco do sério as vezes, geralmente eles são ou maiores ou mais forte do que a maioria dos alunos, ou então simplesmente são mais perturbados, e acabam criando uma classe da hierarquia escolar que eu chamaria de “milícia dos repetentes”, porque muitas vezes eles têm mais autoridade na sala do que os professores, só que a conseguem através de uma opressão violenta contra os bobinhos e medrosos da sala. E é verdade gente, não estou mentindo, eles conseguem mandar e desmandar na sala de aula, mas normalmente esses são os que nunca terminam os estudos, o que é uma pena, talvez eles pudessem aproveitar esse tipo de característica em empresas ou em empregos que exijam peitudões, apesar de que alguns deles conseguem um emprego de curta duração, até perceberem que eram durões demais pra escola, mas bundões demais pro mundo e saem disso quando podem, se conseguirem é claro, só que eles teriam que aprender a ser menos ogros. Mais uma vez as aulas se passaram devagar com exceção de uma, e por alegria do meu reino um professor não havia dado sinais de vida e então tivemos a última aula vaga. E fomos todos para as quadras. Dessa vez não precisei sentar no meu cantinho estratégico, me sentei ao sol e dei uma relaxada. O sol das manhãs de outono são os meus preferidos, eles não te esquentam ao ponto de derreter em suor, ele só te aquece confortavelmente daquele leve friozinho e chega até a dar uma moleza. Encostei minha cabeça na grade da quadra e fiquei lá por um tempo, simplesmente apenas curtindo o sol. De repente senti alguém cutucar meu braço, preguiçosamente virei a cabeça em direção a seja lá quem for que me cutucava, esperava não ser nenhum dos carinhas da milícia.
_ Cabulando de novo?
_ Ah... oi.. não, hoje não.
_ E tá fazendo o que aqui? A quadra é da minha sala essa aula.
_ É que um professor faltou, e como não podemos ir embora.
_ Entendi, e você não curte jogar não é?
_ Curtir eu curto, mas sou ruim pra caramba, e eles são muito competitivos não me deixariam entrar por nada, só se tiver faltando alguém, mas nem faço questão.
_ Eu também, nem gosto, e outra, os meninos nunca deixam as meninas jogar direito. Nem ligo, prefiro ficar aqui ouvindo música.
_ É, e o sol tá super gostoso, dá até pra dormir aqui.
_ Não gosto muito do sol, me dá moleza, mas o de hoje tá gostozinho, não tá muito quente sabe?
_ É, eu gosto dele assim também. – Tirei meu maço de cigarros da mochila e lhe estendi.
_ Quer um cancerzinho ai?
_ Haha, sempre, desde que não seja o com a criança no vidro eu aceito.
_ Porra! Dei azar, é o da impotência.
_ Serve!
_ Calma ai que hoje eu tenho isqueiro!
Ela levantou repentinamente num pulo, e ficou frente a frente comigo.
_ Não, o meu é muito mais legal! Deixa eu te mostrar, ele tem uns desenhos de elefantes.
_ haha, quero ver então.
E retirou da bolsa um isqueiro cinza, com umas unhas de elefantes desenhados na parte inferior e dois olhos graciosos entre duas orelhas que sumiam no cilindro do isqueiro. Acendeu seu cigarro e gentilmente me ofereceu o fogo. E sorridente sentou-se novamente, ficamos olhando o jogo por um tempo, até que ela me perguntou:
_ Nunca mais te vi por aqui, parou de cabular?
_ Não, é que a gente não se encontra por aqui né.
_ Verdade.
E mais uma vez nos viramos pro jogo, enquanto víamos o jogo resolvi ligar meus fones de ouvido pra escutar algo até que pudesse ir embora.
_ O que cê tá ouvindo ?
_ Ah não sei ainda, não conheço essa música, quer escutar?
_ Ah, claro, adoro ouvir música, vamos ver se você tem um bom gosto.
_ Mas estou escutando rádio.
_Tudo bem.
Então lhe passei um dos fones.
_ Não, do outro lado, esquerdo.
_ Tem isso é?
_ É que são anatômicos, manja? Pra não ficarem caindo toda hora, mas tem que colocar na orelha certa.
_ Entendi, sou muito burra.
Escutamos algumas músicas em silêncio, até que começou uma parecia familiar.
_ Nossa cara, eu adoro essa música!
_ Nossa, eu também curto!
_ Essa banda é bem boa, pena que os caras não fazem mais coisas boas.
_ Verdade. Uma merda!
_ Achei que eles iam estourar, mas eles mudaram e ficou uma merda!
_ Então bicho, antes eles tinham uma coisa mais enérgica, não tão trabalhada, a pegada deles era um rock and roll mais simples, e isso que era bom neles, essa coisa crua, ai eles entram nessa de evoluir musicalmente, fazer umas músicas mais elaboradas, eu até acho bacana, eles têm que evoluir mesmo, mas eles não foram bem sucedidos nisso. Simplesmente tiraram a única coisa que tinha de bom neles, que era aquela pegada simples.
_ A cara, não é só isso, eles são bons vai, só mudaram um pouco o estilo. Vocês faz os caras parecerem umas criançõnas!
_ Ah nem vem vai!
_ Ah,essa chata é pra caralho! Vou aproveitar a deixa e vou comprar alguma coisa pra comer.
_ Vou com você.
_ Demorou, vamos lá.
Peguei minhas coisas e caminhamos em direção à cantina, atrás de uma pilastra o safadinho do outro dia se enroscava com outra menina. Ela apontou pro casal do animal planet e disse:
_ Falei.
_ Verdade!
_ E essa não é nem a que eu tinha visto, já é uma terceira!
_ Por falar nisso, e você? Sra feminista?
_ Eu?... próximo assunto.
_ Porque? Namora?
_ Não, e nem quero, odeio relacionamentos. E próximo assunto.
_ Isso parece coisa de armozinho não correspondido.
_ Pior que nem é.
_É, e por que o ódio?
_ É porque é uma coisa que eu não entendo, ou estrago tudo ou estragam tudo. Odeio, pronto! E você?
_ Eu, sei lá viu, eu acho meio parecido com um jogo, mas é complicado, sempre tenho uns casos bem estranhos.
Então chegamos à cantina. Ela procurou infantilmente aquilo que mais lhe agradasse e pediu um pão de queijo meio envelhecido que estava na estufa de vidro e pediu um refrigerante. E eu pedi um refrigerante de laranja e um chocolate. Quando estávamos quase saindo, ela voltou-se para a atendente e pediu alguns chicletes. Foi atendida e retornamos para as quadras.
_ Adoro refrigerante de laranja.
_ Também gostos, odeio os de uva, são mais doces e parecem ter menos gás, têm gosto de pasta de dente.
_ É por isso que eu não gosto tanto, são muito doces, enjoam sei lá, e eu gosto de refrigerante com muito gás, daqueles que deixam os olhos vermelhos.
_ Credo... que zuado cara.
_ Lembra daqueles refrigerantes que lançaram uma vez, de morango, maçã... tinham mais sabores, mas não lembro.
_ Lembro sim, eu adorava o de morango. Odeio essas coisas gostosas que param de vender.
_ É, também acho ruim, mas acho que são produtos novos que não dão muito certo no mercado ai eles tiram.
_É, edições limitadas.
_ Isso é desculpa deles, vai ver é tipo um teste, tipo um piloto pra ver se o produto vai funcionar.
_ Tipo aquele chocolate de laranja.HAHA.
_ Haha, mas era gostoso vai.
_ É, era gosto, mas os normais são melhores.
_ Eu gostava do refrigerante de maçã, mesmo ele tendo aquela cor de água suja.
_ Verdade.
...

18 de set. de 2010

#1

E de repente eu despertava sonolento em meio a mais uma entediante aula de geometria analítica, meus olhos ainda estavam embaçados e fragilizados pela claridade da sala. Olhei para o relógio da parede e ainda era cedo demais para ir embora, porém parecia que sempre estive ali, por uma eternidade. Com a manga da blusa limpei a boca babada de sono e me recompus. Tentei prestar atenção no conteúdo escarrado na lousa, mas foi meio inútil a minha tentativa, não conseguia me concentrar naquela matéria. Talvez a única coisa naquela sala que conseguia chamar a minha atenção eram os ponteiros do relógio na parede suja e rabiscada da classe. Que mais uma vez confirmavam a teoria da relatividade de Einstein, enquanto observava os ponteiros comecei a cair no sono levemente, fui salvo pelo sinal que batia no extremo do corredor do qual a minha sala se encontrava. Recolhi minhas coisas sobre a mesa e enfiei-as rapidamente na mochila, e segui o fluxo de alunos saindo da sala. Aproveitei a bagunça da troca de salas para ir ao banheiro. Chegando lá, as portas como sempre todas rabiscadas e ilustradas por pintos e vaginas por todos os lados, o ápice da testosterona juvenil, incluindo um anuncio de “gosto de um caralhão! Por favor entrar em contato 7162-8538”, me pergunto se de fato alguém chega a entrar em contato. No fundo todos sabem que isso é arte de algum amigo fanfarrão e mal intencionado querendo se divertir as custas do amigo, mas sempre existem aqueles que ainda não saíram do armário. Talvez um desses enrustidos ligue, seria uma situação bem constrangedora, mas muito engraçada. Havia três mictórios, dois deles estavam entupidos com papeis higiênicos molhados até a borda, não consigo entender o porquê disso. Uns vândalos, jogar papéis molhados no teto ainda é divertido, não chega a danificar muito o estado dos banheiros, mas entupir os vasos é muita sacanagem. Esperando o tempo passar me distrai limpando as marcas de merda na privada, aquelas freadas que a gente sempre lava com o mijo. Entrei no Box do meio, os outros ou estavam ocupados ou entupidos, como sempre. Aliviei-me e fiquei por lá até que os sinais soassem de novo e a turba alucinada retornasse para as salas de aula. Esperei que os ânimos, e pintos se aquietassem nos seus respectivos lugares e atravessei o corredor o mais rápido que pude. Chegando até o portão que dava para as quadras, era possível ouvir o estralo da bola ao se chocar ferozmente contra as divisórias de madeira entre as quadras, inclusive os barulhos estranhos e agudos que as chuteiras dos nossos amigos esportistas faziam. Arremessei minha mochila sobre o portão e depois o pulei. A quadra estava cheia, a bola corria de pé em pé, e os meninos alucinados gritavam e xingavam-se. Enquanto as meninas histéricas solicitavam seu direito a jogar também, escolas, um ambiente bem hostil para alguns. Nas arquibancadas, encontravam-se os fragilizados amiguinhos que eram excluídos pela falta de talento nos esportes ou simplesmente por ser feio demais, gordo demais, estudioso demais, baixo demais, embora os baixinhos sofram menos que os gordinhos. No outro oposto estavam estrategicamente os vulgos “populares”, quase um clichê norte-americano. Não me agrupei a nenhuma das tribos, sentei próximo aos muros para que pudesse ver quando a inspetora aparecesse, sentei-me e acendi um cigarro. Sim, não poderia estar fumando, por estar na escola vocês devem ter imaginado que eu ainda não tenha idade para isso, bom, eu quero que se foda! Em alguns minutos alguns amigos meus apareceram, me cumprimentaram e me serraram um cigarro como sempre. Sentaram-se, conversamos um pouco, deixe-me apresentá-los: Carlos, Júnior (na verdade seu nome é Antônio, mas ele prefere que o chame de Junior, ele acha Antônio muito antiquadro). Algo do tipo “ Oi, eu sou o Antônio!” E o “nariga”, eu não sei ao certo o nome dele, o conheci como “nariga”, e acabamos conversando direto nas cabuladas de aula, e agora eu tenho vergonha de chegar e perguntar qual seria o nome dele e mostrar que eu nunca o soube. Então o chamemos de “nariga”! Conversamos um pouco até que Carlos conseguiu arrastar os outros dois para jogarem uma partida de futebol. Aproveitei minha solidão e coloquei meus fones de ouvidos e comecei a escutar alguma música pra matar o tempo, o mais impressionante é que o ar frio da quadra não me deixava pegar no sono como a pouco. Fechei os olhos e me distrai com a música, me ausentando do mundo. Quando de repente uma pancada me atingiu no ombro fazendo com que eu derrubasse o cigarro na canaleta imunda e “despertasse” assustado, e percebi que o filho da puta do “nariga” tinha chutado a bola em mim pra me sacanear, apenas mostrei o dedo do meio para ele e o mandei se foder! Enquanto as outras pessoas riam de mim, inclusive uma menina que havia se aproximado, da qual eu ainda não tinha tido noção de estar ali. Ela ainda rindo se aproximou mais e disse:
_ Hei! Eu ia te pedir um trago desse,mas cheguei meio tarde!- e riu-se mais. Fiquei com vontade de lhe dar uma resposta grosseira, mas ela disse isso com uma simpatia que não me ofendi. E começou a andar, retirei o maço do bolso e lhe chamei.
_ Ô! ô baixinha.. não quer um inteiro? – e lhe estendi o maço.
Ela virou-se e voltou em minha direção, pegou o maço suavemente da minha mão e retirou um cigarro.
_ Cacete! Filtros vermelhos! São muito fortes cara, fodem toda a minha garganta, mas como você me ofereceu vou aceitar. Obrigada!
_ De nada, tem isqueiro?
_ Só tenho fósforos, mas odeio ascender com fósforos, sempre acabam dando um gosto estranho no cigarro. Tem isqueiro ai?
_ Acho que tá ai dentro do maço, dá uma olhadinha.
Ela reabriu o maço e verificou, apenas levantando os olhos pra mim disse.
_ Não tá aqui não. – E já colocou o cigarro na boca com uma das mãos e com a outra me devolveu o maço. É agora que vocês me dizem que daqui sairá algum papo intelectual e culto parecido com aqueles romances cultuados de escritores dados como marginais. Não, pessoal, isso aqui é a vida real, acho incríveis esses romances, são lindos mesmo e casuais, mas não consigo acreditar que sejam reais, e eles que nos fazem construir relacionamentos estranhamente belos como padrões para nossas futuras frustrações amorosas. E, aliás, eu não achei o isqueiro, provavelmente algum dos meus amigos me passou a mão. O procurei entre os bolsos e chequei o maço, e ele de fato não estava em nenhum desses lugares.
_ Porra! Foi mal, não achei meu isqueiro.
_ Tem problema não, vou de guarani mesmo!- retirando uma caixinha da bolsa, riscou o fósforo na caixinha umas duas vezes, até que ele acendesse. E rapidamente inclinou o palito para que o fogo subisse pelo cabo e não se apagasse rápido demais. Mas infelizmente o vento foi mais rápido do que ela, então ela sacou mais outro palito e me olhou, ainda com o cigarro na boca e o fósforo e a caixa nas mãos. E de canto de boca me disse:
_ É foda né!
Levantei-me e com as duas mãos em forma de concha fiz abrigo para seu fósforo, ela inclinou a cabeça próxima à caixa, a ponto de que assim que o palito acendesse já pudesse acender o cigarro. E rapidamente riscou o fósforo, que entrou em chamas e quase em seguida acendeu o cigarro e deixando aquele borrãozinho na lateral do cigarro. Acho que deve ser essa tostada que deve mudar o gosto do cigarro.
_ Valeu cara.
Apenas sorri mostrando que não foi nada, como todo mundo faz. E voltei a me sentar, ela se sentou logo ao meu lado.
_ Tá cabulando aula né?
_ Aham! Geometria analítica!
_ HAHA! Física!
_ Porque?
_Por quê o que?
_Porque perguntou se tô cabulando aula.
_ Ah... por nada não, é que quando eu cabulo fico por aqui também, daqui dá pra ver se a vaca da inspetora aparece. Só é foda quando chove, ai não tem pra onde correr, ai prefiro ficar dormindo na sala.
_ Verdade.- retirei o maço de cigarro do bolso e peguei um cigarro, colocando o maço entre nós dois. Ela automaticamente me estendeu o cigarro.
Acendi meu cigarro no seu e sorri.
_ Valeu.
_ Se liga cara, nem foi nada. Cara, esses filtros vermelhos realmente acabam comigo, mas nada como um Lucky Strike vermelho.
_ Também gosto, mas não tinha na padaria hoje. Tive que comprar esse Hollywood mesmo.
_ Cigarro do sucesso HAHA! Trash, mas nem são ruins não.
_ É, nem são.
_ Quantos anos você tem?
_ Acabei de fazer dezoito. - e sorriu pra mim, como se tivesse um poderoso brinquedo nas mãos.
_ Sério?
_ É, porque?
_ Não parece.
_ É eu sei, só porque sou baixinha, mas sou mais macho que muito homem.
_ Tô vendo, fumando, cabulando aula, quase um moleque.
_ Queimar os sutiãs né velho! E aula de física é um porre, só preciso saber que dois corpos não ocupam o mesmo espaço, quase sempre não. – e apontou pra um casal se pegando furiosamente do outro lado da quadra. Ela olhou pra mim e me chamou para confidenciar algum segredo.Aproximei-me e ela disse sussurando:
_ Aquela garota ali é uma tonta, o cara que tá quase comendo ela ali, tava quase comendo uma outra ali nos corredores, e eles devem namorar, se liga na coleira no dedo dela.
_ Nossa.... que maldade. – e rimos.
_ Pois é, todo mundo sabe, e todo mundo fingi que não sabe e ele passa o rodo geral. E olha que é um babaca, trata todas com se fosse um pedaço de carne com tetas.
_ Ai é foda né!
_ Ah cara foi mal, isso deve ter soado muito feministinha né?
_ HAHA nem pega nada, é a pura verdade, mas tonta é ela que caí na dele.
_ É, falou tudo. Mas tem mulher que é besta né cara, já vive alienada naquele ambiente machista em casa, as vezes nem tem culpa, só não sei quem é pior, se é ela que se submete a isso ou se a outra piranhuda lá que desvirtuou todo essa liberdade feminina manja?
_ Tá, agora suou bem feminista.
_ Foi mal, haha.
_ E você? Quantos anos?
_ Dezoito também.
_ Ah legal cara!
_ É, médio, não é tão legal assim, a gente sempre pensa que vai fazer mil coisas quando fizer dezoito, ai fazemos, e no fundo vemos que não era a idade que nos acorrentava manja?
_ Só!
_ Tu ainda depende dos teus pais, tem que dar satisfações, porque eles que nos sustentam,e tudo não passa de uma falsa sensação de liberdade, a única vantagem é que já podemos entrar em bares e essas coisas, mas sem grana também não adianta de nada.
_ HAHAHA ai cara, que horror! Não fala assim, deixa de ser pessimista.
_ Ah, nem é pessimismo não, é a real.
Ela termina seu cigarro e o paga na sola do tênis e deixa guimba, (olha como tenho vocabulário gente) ao lado do maço.
_ Cara, tu sabe quanto tempo falta pra próxima aula?
_ Calma ai, vejamos... faltam uns 3 minutos. Vai voltar é?
_ É cara, aula de história, gosto de história.
_ Ô, legal, também gosto. Pena que meu professor é ruim demais.
_ HAHA, que pena!
Terminei de fumar quando ia jogar a bituca no chão ela me cutucou.
_ Ê cabação! Não joga a bituca no chão né.
_ E o que eu faço, nem tem lixo?
_ Faz assim ó. – ela pegou o fim do cigarro da minha mão, apertou a ponta do filtro com o indicador e o polegar e a começou girar a bituca entre os dedos, até que o resto da brasa caísse no chão, e então pisou sobre a brasa e me devolveu a guimba( haha).
_ Viu?! Agora tu fica com ela até achar um lixo.
_ Entendi, legal, não sabia dessa tática não.
_ Cara, valeu, agora eu vou nessa. Até mais e não é pra jogar no chão não heim!
E saiu correndo para alguma sala. Resolvi voltar pra sala também, peguei o maço, coloquei-o na mochila e tranquilamente voltei para a classe, durante mais uma troca frenética de salas. Vou acelerar o processo, dormi mais um pouco, respondi as chamadas e fui para casa como todas as peças da produção.

...

8 de set. de 2010

O odiado.

Enjoado do academicismo que consegue difamar até as idéias mais belas, recolhi minhas coisas e silenciosamente e calmo me retirei de mais uma aula. Onde algum doutor prepotente simplesmente rebaixa seus “pupilos” e os humilha, apenas por vaidade. Um grande boçal, de auto-estima baixa, que de algum jeito precisa enaltecer seu ego. Assim que fechei a porta da sala atrás de mim, abri minha bolsa em busca do meu maço de cigarros e fazer uma leve contagem de quantos trocados me restavam.
Mal terminei de contá-los, cinco reais e trinta e cinco centavos, a porta da sala abriu-se vagarosamente e uma garota saiu, fechando a porta por trás de si, tão fugida quanto eu.
E de repente me olhou e quase sussurrando escarrou:
_ Odeio esse nojento de merda! Ele é uma arrogante, me recuso a ver a aula dele!- e bufou enraivecida.
Olhei curioso e até sorrindo de tal cena que havia presenciado, ela esta falando do professor, pensei, mas como uma criança curiosa, não me contive e perguntei.
_ O que?
Ela me olhou com uma cara indignada, como se eu devesse saber do que ela falava, eu sabia, mas me agradava ver aquele teatro por parte dela, teatro de tanta indignação. Coitada.
Para não fazê-la explicar tudo, seja lá o que fosse, eu quebrei o silêncio.
_ O que aquele puto fez dessa vez?- E com a mão lhe indiquei a porta da sala.
De repente ela começou a vomitar toda sua repulsa contra o escrotal docente, e sem perceber já estava quase gritando. Achei melhor interrompê-la, antes que ela atrapalhasse a entediante aula que acontecia dentro da sala ao lado, e também para evitar algum tipo de conflito caso por ventura nosso amado professor saísse para pedir que ela fizesse um pouco menos de barulho.
_ Ei! Ei, calma, eu queria fumar vamos lá para fora?
_ Ah beleza, vamos sim.
E conversando bem baixinho nos retiramos do prédio, de imediato retirei um cigarro do maço e o acendi. Estava uma noite gostosa, um pouco quente, mas com uma brisa doce e refrescante, me deu uma puta vontade de beber uma cerveja, acho que meus trocados dão pra toma algo. Enquanto fumava ela recomeçou seu discurso.
_ É um absurdo, esse professor é um grande filho da puta, ele trata os alunos como se a gente não soubesse nada e ele fosse o máximo, ai do nada ele pergunta uma coisa totalmente fora do tema da aula e acha que temos o dever de saber, vai pra porra! Filho da puta!
Inevitavelmente eu ri, apesar de indignado com a aula, eu achava engraçado o modo como ela reagia a tudo aquilo. E ela continuava com todo seu ódio. Aquilo tudo só me deixou com mais vontade de tomar algo e sentar tranquilamente para fumar.
_ O que acha de tomarmos uma cerveja? – sugeri.
_ Acho uma boa, esta uma noite agradável né?
De um momento para outro, ela se transformou, não parecia a mesma, me respondeu de uma maneira tão gentil e cortes.
_ Fechado, vamos então!
E começamos a nos dirigir pro bar, assim que recomeçamos a andar reparei que ela carregava uma bolsa em cada braço e que uma delas parecia ser pesada demais para seus braços frágeis. E mesmo com dificuldades ela não me pede ajuda para carregar a bolsa, por orgulho talvez, deveria me oferecer para carregar, ser um cavalheiro, as mulheres dizem que eles estão extintos e tudo o mais, mas todo homem que se oferece para segurar a bolsa de uma mulher, em alguma profundidade de sua mente suja deseja se aproveitar da pobre dama, ou então só o faz por simples vaidade, para sentir-se um cavalheiro, o que automaticamente de alguma maneira é para impressionar a moça em questão, homens não querem ser cavalheiros por simples cavalheirismo, ninguém é tão altruísta, e mesmo que não o agrade o homem acaba se oferecendo a ajudá-la.
_ Escuta, quer ajuda pra levar a bolsa?
_ Ah obrigado! E me entregou o pesado fardo antes que eu terminasse de falar que a bolsa parecia pesada, como se aproveitasse de mim, aquilo transtornou-me um pouco, seria muito mais digno que ela me pedisse ajuda com a bolsa, não seria humilhação nenhuma, muito menos se mostrar inferior perante ao homem, como muitas mulheres pensam, seria simplesmente sincero e verdadeiro, mas muitas delas por um orgulho feminino exagerado e imaturo impedem-se por vaidade.
E continuamos andando, de repente ela me perguntou:
_ Desculpa, mas qual o seu nome mesmo?
_ Carlos.- eu sabia o seu nome, não me lembrava ao certo como sabia, mas tinha certeza que já havíamos sido apresentados, afinal estudávamos na mesma classe e de algum modo nos cumprimentávamos casualmente pelos corredores, mas nada além disso. E acredito que ela também soubesse meu nome, mas quis certificar-se disso.
_ E o teu?
_ Helena.- ela me respondeu e esboçou um leve sorriso.
Sorri em retribuição e ela me disse:
_ Acho que já fomos apresentados antes, não?
Sabia, ela também sabia, mas não queria se mostrar tão indiferente e resolveu ser sincera para evitar qualquer gafe que a atrapalhasse.
_ Não me lembro, talvez sim. Sempre nos cumprimentamos rapidamente nos corredores, e também somos da mesma classe, é bem provável que já tenhamos sido apresentados.
Como de costume perguntamos todas as convenções de sempre, quantos anos, do que trabalha, onde mora e essas coisas todas. Após um socioeconômico completo, torna-se sempre inevitável tentar conhecer os gostos do outro, mesmo que isso não interesse muito, o que as vezes só nos interessa devido a segundas intenções ou uma boa tranqüilidade de espírito, ou que os gostos sejam totalmente opostos, mas parar quebrar com a inquietude de conversar com uma pessoa da qual ainda não se tem intimidade nenhuma, isso de fato é inevitável. Porém antes que isso acontecesse, no caminho ao bar, encontramos um grupo de amigos em comum. Todos um pouco eufóricos e felizes.
_ Eae pessoal? Onde vocês vão?- eles nos perguntaram.
Quase que simultaneamente respondemos que iríamos para o bar e os convidamos.
Um deles se aproximou como alguém que vai contar um grande mistério e puxou minha cabeça com a mão para confidenciar-se comigo.
_ Vamos fumar um?
A noite já estava sem quaisquer perspectivas sólidas, com exceção a idéia de irmos ao bar, fumar me abriria ainda mais o apetite para beber, e também tornaria cada cerveja “a” melhor cerveja do mundo e ainda tínhamos tempo suficiente para aproveitar e também esperar que o efeito passasse, mas ainda tenho que voltar para casa, voltar tarde e em condições de certa maneira, adversas, sempre acaba sendo meio tenso, não sei se devo fumar, posso fumar outro dia, mais tranqüilo, mas porque não? Ainda tenho a noite inteira.
_ Eu topo. – respondi.
E mais uma vez como uma criança ele se aproximou para cochichar algo, mas dessa vez para a nossa nova amiga, ela sorriu e fez que sim com a cabeça, provavelmente deve ter sido a mesma proposta, engraçado, quanto mais ele tenta camuflar, mais tudo parece algo ilegal e imoral, foi acostumado pelo sistema a ser assim.
...

4 de set. de 2010

Rock and Roll Suicide#

Um silêncio utópico domina a madrugada serena de um sábado sem perspectiva alguma, de companhia só o último Lucky strike e a melódica melancolia de lady stardust ao fundo do quarto. No céu não há estrelas, quer dizer na verdade elas estão lá em algum lugar, mas as possibilidades de ver algum astro hoje está muito remota. O céu está com uma cor que ainda não consegui definir, mas algo entre o azul escuro e o roxo. E a chuva cai em prestações, acendo o último cigarro, só mais esse e irei dormir. Debruço-me na janela do quarto, e a cada tragada jogada ao ar um pouco de mim sai naquela fumaça espessa e branca. Bato o cigarro para que caiam as cinzas, elas como numa cena de antigos filmes noirs dissolvem sobre as possas de água da última parcela de chuva. Até que começa Rock ‘n’ Roll Suicide, me identifico com essa música, não que eu seja um depressivo suicida. Mas me identifico óras! Precisa de alguma descrição para se apegar a algo? Pois então. E foi ai, que me lembrei de você, não que tenha me esquecido, em momento algum. Mas lembrei-me de um dia em especifico, foi naquela semana de overdose “Bowie”, é foi nesse período.

Eu peguei o violão e te disse que tinha uma coisa muito bonita pra te mostrar, e você com aquele seu jeitinho, disse-me então mostre homi. Eu arranhei uns acordeis e comecei, e foi justamente naquele verso “You are rock ‘n’ roll suicide...”, que seus olhos brilharam como eu jamais veria outra vez. E você me disse “Ai que lindo!”, não sei lhe explicar como aquilo me satisfez, talvez pra você tenha sido um fato tão banal e bobo, mas aquela é uma das melhores lembranças que trago. E talvez tenha sido o mais profundo que eu possa ter chegado até você, talvez por isso aquela música me represente algo ou coisa parecida, essas coisas psicosomáticas , coisas da cabeça você sabe. Mas no fundo mesmo, toda vez que escuto essa música, me vem outra cena na mente. Porem essa cena nunca deveria ter entrado no ato, ainda mais depois que vi aqueles mesmos olhos de tua platéia me desprezarem e repreenderem naquela festa. E logo em seguida daquele olhar, você me disse com um tom de voz que até hoje me machuca, não por brutalidade ou selvageria, mas pela a tristeza e decepção levemente adocicadas e calmas.

_ O que é isto na tua mão? (Com um ar total de decepção.)

Foi ai que senti, que talvez nunca mais seriamos os mesmos. Não soube o que fazer, aliás até hoje não saberia. Imbecil, foi isso que seus olhos me disseram segundos após. Então tentando descontrair a ofereci um gole de cerveja. E dessa vez foi mais rude.

_ Quê é isto na tua mão?

Não tinha como evitar, e mostrei-lhe a mão. Nesse instante meu ato estava se consumando, queimando e destruindo-se entre meus dedos, a cada milímetro que o cigarro se desfazia em chamas. Antes que eu te dissesse qualquer coisa, você me disse todas aquelas coisas, se eu era um idiota? Desde quando fumava? Se eu era tapado? Retardado. Mas aquilo era inevitável, o que me doeu foi que sabia que após aquilo, tudo se consumiria como um velho cigarro. E em questão de tempo seria pó. Naquele momento senti que todos os elos que haviam entre nós enfraqueceram.

Eu sem o que dizer. Então você disse primeiro:

_ Não me interessa, a vida é sua faça como quiser. Então virou e vi suas costas naquele lindo vestido preto partirem em direção a porta de saída. Puxei-te pelo braço, e as únicas palavras que consegui vomitar naquele momento foram, que não me levasse a mal e que não fazia aquilo por rebeldia ou para me mostrar. Mas isso não mudava de nada o fato, e diferente das outras vezes, desta você não discutiu nem questionou mais nada. Deu-me um beijo no rosto e disse que me cuidasse e aproveitasse a festa sem fazer besteiras. Isso faz meses, mas desde aquele dia sinto que nossa chama está se apagando. Talvez não por parte sua. Afinal não se apaga o que não se acendeu, mas devo estar me conformando ou simplesmente aprendendo e amadurecendo quem sabe. Já conversamos tanto, até mesmo daqueles assuntos que a deixavam chateada e até um pouco impotente, impotente do mesmo jeito que eu ficava ao tentar te dizer tudo que realmente gostaria de ter tido, e que você ao contrario de mim, se lamentava por ter se aberto demais. E brincava tentando disfarçar suas magoas, dizendo de como foi boba ou coisa parecida em ter dito tudo o que sentia e como foi infantil e precoce de sua parte. Eu ria e te tranqüilizava dizendo algo que a animasse, mas no fundo você sabia que indiretamente tudo aquilo me atingia diretamente. Mas não remexemos com o passado e seguimos, por que a cada ato a cena muda. E naquela festa ou talvez antes eu já tivesse mudado, talvez esteja mudando hoje.

Dou a última tragada no cigarro e como uma bolinha de gude o arremesso pela a janela, a bituca ainda acesa corta a escuridão como um foguete e se esfarela no chão ainda úmido. Enquanto “Bowie” chora o último ALONE ao fim de Rock ‘n’ Roll Suicide. E quando em seguida nas caixas de som soaram as primeiras notas de “Little Bombardier” foi que percebi. Que o dia amanhecia, e não via a hora para te ver e lhe dizer as coisas em que pensei durante o meu “último” cigarro.

Pedras

É como andar em direção a uma cachoeira, sobre as pedras molhadas e musguentas.
São tão escorregadias, e geladas, cuidado com essa coisa verde, se você pisar ai vai escorregar com certeza. O caminho não é árduo, nem íngreme, mas rola aquele medinho bobo, você com seus pés frágeis, descalços sobre uma das pedras, com as sandálias enganchadas nos dedos da mão direita. Você anda seu caminho com cuidado, escolhe cautelosamente em qual delas será lançado seu próximo passo, é tão simples, mas tão confuso quanto escolher palavras para um texto. Uma simples escolha errada, uma palavra errada, uma pedra errada e lá se vão suas roupas secas, nas situações mais tranqüilas. Com palavras as coisas são mais complicadas. Ao teu lado esquerdo, passa a correnteza vinda das quedas dágua e que vão até desembocarem num tranqüilo laguinho. Você já pode escutar o barulho da água batendo nas pedras, agora você poderia imaginar qualquer coisa, já tomou banhos de cachoeira?
Se eu te dissesse pra imaginar uma cachoeira agora, quais as chances de imaginarmos a mesma coisa? Cachoeiras me lembram minas gerais, carvalho, uma cidadezinha bem distante de BH, mas enfim. Imagine uma cachoeira, talvez nesse ponto você já tenha imaginado isso. Na sua frente há umas árvores, sei lá, de vários tipos Maria-choronas, eucaliptos, não sei o nome de árvores desse tipo de região, mas aquela planta ali próxima do tronco de árvore caído é uma samambaia, há pedras, pedras que te levarão até a cachoeira. Que até agora só existe na sua mente. Você pode parar um pouco a caminhada sobre as pedras escorregadias como palavras e olhar ao redor, eu acenderia um cigarro nesse instante. Mas, olha, tem mais alguém com a gente, eu não sei quem, talvez você saiba. Resolvi acender o cigarro do mesmo jeito. Te dou um leve empurrão, te assustando, você pensou que cairia na água, mas eu jamais faria isso.
Porque eu também estou escolhendo as minhas pedras, olho uma por uma, e nesse campo minado vou apalpando as pedras com a ponta do pé, pra ver se o terreno é firme, mas as vezes nos acostumamos com isso e pisamos em qualquer pedra, porque todas parecem ser firmes, até que opa! Quase. Já perdemos aquela confiança passageira, cada pedra volta a ser uma dúvida, e seguimos com cuidado. Espera um pouco, olha ali! Consegue ver? Tem peixes no rio.
Laranjas, com umas manchas pretas ao longo do corpo, dá pra ver a boca deles se mexerem, e as caudas como rabíolas dançando na correnteza, eles tem olhos bem redondinhos e negros. Acho que é o peixe mais lindo que já vi. Agora feche os olhos, não, é pra fechar mesmo. Ele dança/nada no escuro, imagine se ele fosse verde oliva com manchas vermelhas, se você piscar bem rápido várias vezes as manchas viram círculos de diversos tamanhos. Voltamos a andar, agora o barulho da cachoeira é mais próximo, e ao decorrer do caminho as pedras ficam mais distantes uma das outras, algumas são bem grandes e ao redor delas umas menores, a caminhada fica um pouco mais difícil, você tem medo de prosseguir, acha que não vai conseguir, mas tudo bem, eu estou aqui pra ajudar, o máximo que pode acontecer é você se molhar um pouco. Só que você não sabe, mas eu também tenho medo, aqui as pedras são mais escorregadias. Já posso sentir a cachoeira, acho que você também, porém as vezes parece que simplesmente ela não está mais lá. Só nos resta um silêncio e vestígios que vão na correnteza, fazendo a água dançar de um jeito a cada instante, sempre incerta. Me distrai tanto tentando reencontrar a cachoeira que acabei escolhendo uma pedra em falso, e quase caí. E seguimos mais uma vez, agora já podemos ver a cachoeira. Será que a água está gelada?
Com seu pé nu você verifica, colocando apenas o pé direito entre as águas e tirando o rapidamente. E como uma criança ri, de pronto todos os pêlos dos teus braços arrepiaram,é, a água está gelada. É um dia feliz, tudo tem ido muito bem, até que você pisa numa das pedras escorregadias e quase caí, eu te segurei na medida do que pude. Você arranhou as canelas e uma de suas sandálias escapou da tua mão, e agora já está a uns 10, 17 metros de nós, flutuando e dançando sobre as águas que a levam até a perdemos de vista. Fiquei preocupado, você triste e nervosa, aquilo me deixou mais cauteloso. Enfim terminamos as trilha de pedras e chegamos à cachoeira. Olhei para trás e você ficou uns metros distante, o tropeço tinha te deixado pra baixo, senti que gostaria de ir embora. Voltei algumas pedras e te olhei, tentei te animar, no fundo nós dois queríamos tomar um banho de cachoeira, mas o caminho nos deixou assustados. Mas já dá pra sentir as gotas que respingam nas pedras e explodem para todos os lugares, sempre cai alguma bem pequena nos seus olhos, e quando você abre o olho aquela gota como um prisma separa a luz do sol em várias cores psicodélicas através dos seus cílios. E mesmo assim,você tem medo, mas eu sinto aquilo tudo, e me jogo nas correntezas. Sem poses nem nada, apenas salto com toda s as minhas forças sobre as águas.
E lá fora você fica imóvel, e cada segundo se passa, é o tempo, implacável e nunca pára. E com o tempo eu não subo, me perdi para sempre?
Você olha atônita para a água, tudo bem? Pensa em morte, desespero, imagina o debater de meus braços, o gana por oxigênio, meu pé preso em algo, e se joga na água após quase dois minutos incertos e infinitos. Você sente a água te molhar dos pés a cabeça, mas dentro da água é impossível ter a noção disso, muito menos quando o corpo se molha por inteiro. E a água nem parece mais tão gelada. Você abre os olhos, a água não queima, é doce, não te incomoda, você vê-se no vazio. A única coisa que sente é o barulho distante das águas caindo sobre as pedras.
E alucinada procura para todos os lados, mas não me encontra. Estive ali algum momento? E todos os peixes, não consegue ver o fundo da lagoa, e aos poucos até o som das quedas dágua somem. E você se desespera, é instintivo, precisa respirar, mas nunca encontra a superfície, será que desceu demais? E não consegue segura e lhe falta o ar, o desespero te toma conta por completo, e entregue tente respirar sob as águas, mesmo sabendo que é inútil, mas o que fazer? E aos poucos engole aquela água, mas não sente mais falta do ar. Deves estar morrendo de verdade, sua visão também começa a embaçar, e o som da cachoeira já não existe mais. Nunca existiu. Já não se sente mais molhada, o lago está vazio, você está vazia. O que é o mundo, tudo é tão vazio, você passa a perder todos os sentidos aos poucos, não vês, não escutas nada, mas sabe que não está morta. E percebe que o mundo só existia através dos sentidos, o toque te dizia que aquilo existia, o ver te mostrava o que o mundo poderia ser, escutar lhe dava noção de tudo que acontecia ao teu redor e agora?
Mas você não está mais tão desesperada, talvez seja isso mesmo. E não enxergar mais luz alguma, já não enxergas nada. E aos poucos não sente mais teu corpo, mas de algum modo vê coisas que não existem, existiram, músicas, textos, conversas, pessoas, momentos, uma mesa de bar, um simples olhar, um sorriso, o despertar de um dia incrível e tudo é tão seu, faz parte de tudo, é como se as lembranças te dominassem por completo. São como filmes, vêm sobre teus olhos, ou mente, já não existe nada concreto como você sempre prezou. E eu? Já faço parte de tudo isso, ou não. Relembra de teus pais, tão importantes, tão ausentes, tão incompreensíveis, é assim a vida, uma percepção vaga de tudo. Você tenta perdoá-los, já foram jovens como você e por isso são assim, para tentar te proteger, ou não. Querem se corrigir através de tua vida, te moldar para coisas boas, sem te preservar por completo, tanto te privam, te protegem, para quê? No final não é tudo tão vazio? Tudo isso é bem vago, mas você não quer morrer ainda, mas para quê vive? Para ter medo de fazer coisas que de fato quer, mas nunca faz por medo, o medo também é vazio, pois tudo não tem um fim?
Isso se a morte for de fato o fim?
E o que é o fim? Não mais um conceito da sua cabeça? Assim como a cachoeira, e todas as perspectivas que você teve sobre todas as pedras em qual pisar, ou não pisar e que no fundo todas são iguais.

3 de set. de 2010

L.A

De repente você acorda, com uma ansiedade vazia que te empurra pra vida tirando-lhe o sono. As paredes do quarto parecem mais próximas, muito mais. Sente-se, as paredes do quarto já lhe roubaram a cabeceira da cama, você senta, folheia algum livro, e nesse momento qualquer verso vai se adaptar ao seu desespero recém nascido. Inquieta você joga seus pés para fora da cama, calça seus chinelos para não sentir a frieza do mundo e melancolicamente avança até a cozinha, toma um longo gole de água em busca de vitalidade ou algo parecido. E despercebida passa pelos cômodos sonolentos da casa, não há necessidades de acender as luzes, você já conhece tudo, sabe como as coisas funcionam, mas mesmo assim as acende. E mais uma vez deita na cama de seus pais, costumava ser tão bom. Quentinha e confortante, mas não é mais tão aconchegante. Ela agora parece tão vazia, eles não estão mais lá. E de repente um medo infantil te atinge, de tudo, foi isso o que lhe sobrou, dorme pobre criança a infância acabou.

1 de set. de 2010

Despertar.

Ela abriu os olhos, lentamente a luz invadiu sua mente.
Fermentando cores, formas, vidas.
E fez-se o mundo num piscar de olhos.
Apenas iluminando a imaginação.
Desconstruída pela razão.

Romance moderno

Ela tem aspirações esquerdistas, é claro, lê Simone e vê filmes do Almodóvar. Ele com quase os mesmos ideais, vomita Sartre em rodas de bar, e renega os blockbusteres, que são contra suas aspirações, óbvio.
Ela não usa roupas de grife, pois vêm de fábricas com regimes quase escravistas na china ou em qualquer outro lugar carente do mundo que ela argumenta proteger, só em idéias, mas protege. Porém desfila por ai com sua nova melissa vermelha e reluzente, que claro, remete à pobre Doroty e seu amigo totó. Ele não usa tênis de couro por amor aos animais, que merecem respeito, e critica seus amigos capitalistas com Nike nos pés “a Nike é o órgão sexual de todo capitalista, é o lixo de toda a America”. Mas nunca abandona seus pares e pares de “all star”.
E de repente, como num romance underground Cult que eles revisitaram, essas duas almas inquietas encontram-se.
Trocam olhares durante toda a noite, ou não, e simplesmente se pegam durante uma orgia niilista regada por bebidas e drogas. Mas algo nele chama a atenção, seu papo cabeça, inteligência é afrodisíaco. Para não ficar por baixo ela cita Rimbaud, e ele rebate com algo de Neruda, mas então percebe que pode parecer muito meloso, e não é essa a impressão que ele quer passar, mesmo que o seja. Pensa com exatidão, e de pronto cospe algo eroticamente bonito de Drummond. Estão fisgados, sentam-se em um cantinho da festa e conversam por horas, descobrem suas aspirações, ele associa as melissas dela àquela menina do filme que segue a estrada dos tijolos amarelos, e ela impressionada sorri com seu novo affair. E fechando a noite beijam-se, ausentando-se de todas aquelas efemeridades. Desse encontro surgem outros tantos, ela gosta dele, e ele igualmente dela. Mas cumprimentam-se sempre com beijo no rosto, amistosamente. E com o tempo a saudade começa a bater na ausência do outro, só que ele não liga, não quer parecer desesperado, muito menos apaixonado e tem que acalantar seu orgulho e ego ao lado do telefone, sozinho, segurando seu celular indicando o número dela. O mais engraçado, é que ela também. E a cada encontro surge a dúvida, talvez até uma re-conquista, mas muitas vezes sentimentos escondidos, afinal nenhum deles é nada do outro. É uma era de amor livre, é normal se ter outros parceiros, ambos sabem disso, e fazem questão de deixar bem claro um ao outro, mesmo que no fundo isso passe a doer cada vez mais, porém nenhum deles se abre, não podem se expor. Querem acabar com as instituições sociais, casamento, é coisa do passado, isso todos sabem, e parceiros fixos é algo antiquado. Ah morte para as convenções sociais, eles se gostarão sendo exclusivos ou não, como muitos outros casais. E mais um tempo se passa, mas agora os cumprimentos são com calorosos selinhos, isso pelo menos quando estão sozinhos. Se ele encontra-se com alguns amigos no recinto ela se acanha de cumprimentá-lo de forma carinhosa, talvez os amigos dele não saibam. Entretanto eles sabem, e ele fica inquieto com a falta de calor no encontro, mas nada lhe diz. Saem mais umas vezes, e nutrem esse gostar mutuo e vital, num certo dia ela o encontra numa festa qualquer, e dessa vez quem não é caloroso é ele por motivo qualquer. E no banheiro festivamente vomitado ela chora, ele deve estar com outra, ou alguma potencial paquera, ou não me quer mais, será que um dia realmente quis? De ego ferido, cabeça erguida e coração partido ela retorna pra pista. Preenche seu vazio dele por quatro doses violentas de tequila que lhe dá forças para simplesmente tratá-lo como um conhecido qualquer. Ele sente uma estranheza nela e a chama para conversar, imagina que algo está acontecendo, mas é tratado de maneira tão indiferente, que se enraivece e a deixa só. De lá saí com dúvidas e um estranho vazio, e num boteco qualquer longe dali se embriaga.
Ao chegar a casa sem um de seus sapatinhos vermelhos, e, ainda alcoolizada, deita-se, e se arrepende, não deveria ter o tratado de tal maneira, não possui o direito de lhe cobrar nada, não são namorados, são livres, livres! E resolve ligar pra desculpar-se, mas antes que pudesse de fato dizer algo, de alguma maneira estranha, ele acaba vingativamente lhe dizendo que não se preocupa-se, afinal não são namorados e que ela poderia fazer o que quiser, inclusive enroscar-se com outros caras. E fatidicamente ela acredita que ele se camufle nesse argumento, para não lhe dizer que já estava se relacionando com outras. E orgulhosa simplesmente reponde, que concorda, despede-se sucintamente e desliga o telefone. Ela não mais o procura.
Com o passar dos dias ele lhe manda mensagens, mas nunca é respondido. E após algumas tentativas, desiste de procurá-la.
E em qualquer lugar da cidade ela confidencia tristemente para as amigas de como perdeu um grande amor, daqueles de cinema francês.
Enquanto ele numa mesa de bar esquecida volta a vomitar todo seu existencialismo sartreano e resmunga, de uma forma esperançosa que se de fato a cativou ela há de voltar.
Isso nunca acontece, os dois são orgulhosos demais, cultos demais, e fatidicamente, modernos demais!

T.rex e pornografia.

Acendo um cigarro ao fundo rola um bom T.rex, estou desesperado.
Dezoito anos, ainda sento sozinho nas aulas de comunicação. São todos tão estupidamente felizes que estragam todos os discursos da professora, como se fossem crianças primarias. Meus antigos amigos já seguiram seus rumos e eu a procura de um emprego que pague 10 reais o dia desgastante de 12 horas amargas. É o fim de mais um fim de semana agradável, dois dias sentados à frente de um computador amarelado pelo tempo com intervalo para as refeições.
Arroz, feijão descongelado de dias e uma fritura velha. Sem esquecer as pausas pra cagar aquela comida de sexta. Na ausência de companhia vejo uma pornografia porca e barata. Que diga-se de passagem: não é nada ruim. Pois quem não se delicia ao ver bocetas cabeludas, atores inexpressivos, grávidas sendo enrabadas e aquelas clássicas cenas finais com porra voando pra todo lado.
O telefone toca, para o bem ou para o mal. Corro através do corredor com o pau de fora.No quarto toque atendo:
-Alô?
-Tom? Sou eu... a Francine.
Ela me ligando uma hora dessas, confesso que fiquei de cacete duro só de pensar que a noite estaria salva. Apenas me imaginava enrabando aquela bundinha.
-Ah, Oi meu amor.
-Então Tom... precisava conversar algo sério com você...
Caralho, sussurrei comigo do que se trata.
- Tudo bem, pode falar.
-Acho que nossa relação está um pouco estranha e estou muito confusa quanto a nós dois.
-Bom, eu confesso que fui fraca e te trai. Mas de qualquer modo as coisas não eram como antes. Você só quer sexo, sexo e sexo. Meus pais vivem dizendo que vou acabar engravidando de um vagabundo como você... o melhor é terminarmos por aqui mesmo.
-Como assim? Pensava que a gente se dava tão bem.
-Você diz isso só porque transavamos sempre. Mas não é só isso que eu quero, e além de tudo você transa mal. E odeio ter que ficar chupando o pau torto de um primata que nem você.
- Sua vadia, espero que morra engasgada com um caralho bem grosso na boca.
-E pode ter certeza que o Rodrigo tem um pinto bem mais grosso e melhor do que o teu. Seu perdedor.- Desligando o telefone na minha cara.
E o pior que eu amava aquela puta.

Aos futuros perdidos

Bem vindos futuros e presentes leitores do “Labirinto”, me chamo Guilherme, sou estudante de Letras na UNIFESP(Universidade Federal de São Paulo), e pretendo através do blog divulgar alguns de meus textos e algumas vezes até postar algo de outros escritores, famosos ou não. Desde que me agradem no dia (da postagem), primeiramente queria deixar claro que os textos não têm um gênero definido, nem muito menos uma temática, por tanto pode rolar de tudo um pouco por aqui.

Espero alguns comentários sobre os textos, criticas boas ou ruins, mas úteis, nada de baboseiras, por favor! Alguns textos podem expor certas opiniões que são minhas na verdade, mas não sou muito partidário ou panfletário, escreverei bem de coisas que me agradam e mal das que não. O que muitas vezes pode se tornar paradoxal ou até soar como contraditório de minha parte, e é ai que está o labirinto que pretendo lhes mostrar, porque afinal de contas a confusão faz parte de todos nós.