Pediram-me para fazer uma crônica da cidade de São
Paulo e me perguntei: Quem pintará um retrato da cidade se o próprio Adoniran
Barbosa pegou o último trem?
Talvez alguns universitários saudosistas com seus
“Demônios da Garoa Ácida”, fazendo a divina comédia do circuito Augusta. Dos
puteiros do Anhagabau (que a prefeitura fechou) ao paraíso particular da
burguesia paulistana.
Tendo no cobrador do Terminal Bandeira o seu
Virgílio: que tem um sotaque “daqueles” que as vogais se abrem de alegria.
São Paulo é isso.
Cidade com nome de santo e gente dormindo na rua. Já
não é mais o símbolo do café, Jundiaí fica longe (que cidade grande) e a luz é
tomada pelo crack, que por sua vez está sendo substituído pelo fascismo
imobiliário.
São Paulo é padroeiro de quê?
Quando for a igreja da Sé perguntarei à algum padre,
depois comerei sushis e oniguiris acompanhados de uma caipirinha de saquê. Não
sou um cara com ares de bairrista, daqueles que saem da zona sul pra comer
canelone vendo o jogo do Juventus na zona leste e acham a Augusta um barato,
tampouco vou enfatizar a poluição, a má distribuição, a violência e os
políticos ladrões.
O povo paulistano (que tem um pouco de mineiro, um
pouco de pernambucano) tá tão cansado que nem tem forças pra protestar. Tá todo
mundo às seis fudido e cansado na estação da Sé: parece um inferno aquela linha
vermelha.
São Paulo é essa miscelânea: o inferno embaixo da
Catedral da Sé que parece um castelo medieval que protege o bairro japonês. São
Paulo é isso: comer muitos, ver festival de cinema angolano e entristecer,
depois ir tomar uma cervejinha pra animar e perceber quão hipócrita se é por
não entristecer com a desigualdade de São Paulo e sim ficar com raiva.
Então, se um dia perguntar à um paulista: O que você
sente por São Paulo?
E ele responder: Amo e odeio.
Não tente entende-lo, São Paulo é isso.