27 de ago. de 2012

São Paulo


Pediram-me para fazer uma crônica da cidade de São Paulo e me perguntei: Quem pintará um retrato da cidade se o próprio Adoniran Barbosa pegou o último trem?
Talvez alguns universitários saudosistas com seus “Demônios da Garoa Ácida”, fazendo a divina comédia do circuito Augusta. Dos puteiros do Anhagabau (que a prefeitura fechou) ao paraíso particular da burguesia paulistana.
Tendo no cobrador do Terminal Bandeira o seu Virgílio: que tem um sotaque “daqueles” que as vogais se abrem de alegria.
São Paulo é isso.
Cidade com nome de santo e gente dormindo na rua. Já não é mais o símbolo do café, Jundiaí fica longe (que cidade grande) e a luz é tomada pelo crack, que por sua vez está sendo substituído pelo fascismo imobiliário.
São Paulo é padroeiro de quê?
Quando for a igreja da Sé perguntarei à algum padre, depois comerei sushis e oniguiris acompanhados de uma caipirinha de saquê. Não sou um cara com ares de bairrista, daqueles que saem da zona sul pra comer canelone vendo o jogo do Juventus na zona leste e acham a Augusta um barato, tampouco vou enfatizar a poluição, a má distribuição, a violência e os políticos ladrões.
O povo paulistano (que tem um pouco de mineiro, um pouco de pernambucano) tá tão cansado que nem tem forças pra protestar. Tá todo mundo às seis fudido e cansado na estação da Sé: parece um inferno aquela linha vermelha.
São Paulo é essa miscelânea: o inferno embaixo da Catedral da Sé que parece um castelo medieval que protege o bairro japonês. São Paulo é isso: comer muitos, ver festival de cinema angolano e entristecer, depois ir tomar uma cervejinha pra animar e perceber quão hipócrita se é por não entristecer com a desigualdade de São Paulo e sim ficar com raiva.
Então, se um dia perguntar à um paulista: O que você sente por São Paulo?
E ele responder: Amo e odeio.
Não tente entende-lo, São Paulo é isso.

17 de jun. de 2012

Substitute

The Who - Substitute


    
 O relógio desperta me espantando o sono e algo mais, acendo a luz e esfrego os olhos tirando os restos de sonhos sob as palpebras. Ligo a secretária eletrônica enquanto adoço o café, sei que não terá mensagem alguma, talvez algum amigo próximo mandando "olá" de longe, mas após alguns bites...... atende, por favor, não poderei ir hoje, acordei de espinhela caida, me responde por favor...ai, espero que você não tenha saido ainda. Quando escuto sua mensangem vejo que horas são, estou em cima da hora, espero que você ainda esteja ai, pego o telefone mas você não está mais na linha.
Tento retornar a ligação, mas é inutil, você não está mais lá. E mil idéias me vêm a cabeça, devo ir ou não, e se eu for e não te encontrar, e se por causa da sua mensagem eu não ir e você por não ter conseguido respostas minhas aparecer só para não ficar chato, e se eu for na esperança de como não te dei respostas pensasse que você iria pensando que eu iria por não ter ouvido sua ligação. São tantos ses, que desses ses eu fico pensando sem saber o que fazer.
         Termino meu café e vou tomar um banho, durante o banho o telefone toca, talvez seja você, saio correndo molhado e quase caio escorregando no corredor, mas quando vou atender o telefone para. Volto pro banho irritado, se soubesse nem teria saido a mil como sai, e quando estou com o rosto cheio de sabão o telefone recomeça a tocar. Foda-se, deixa essa porra tocar, se for importante liga denovo e continuo no banho. O telefone para de tocar, saio do banho e vou me trocar, quem será que era, será que era minha galega,não, se fosse ligaria de novo, nem que fosse pra me xingar. Vou me trocar e vejo que já passei da hora e desisto de ir ao encontro dela,mas e se era ela.
          Se eu tivesse saido do banho pra atender, mas talvez fosse mais uma daquelas operadoras de telemarketing ou algum pacote de promoção que eu não compraria e tentaria despachar a atendente de maneira simpatica mesmo estando puto, sempre me lembro de como era ruim trabalhar nessa área.
          Termino de me trocar e resolvo fazer algo pra comer, ia almoçar com minha galega, ela iria atrás daquela camiseta de rock star que ela tanto queria, andariamos por horas, passariamos por várias lojas e ela acharia uma camiseta a cara dela com o rosto do seu rockstar favorito, eu acharia a camiseta feia, aquela camisetas muito escuras me lembram aqueles loucos vomitados de vinho na passeata do Raul, mas ela gostaria, só que mesmo assim andariamos mais uma duas horas e veriamos mais centenas de camisetas e no final, ela acabaria levando essa mesma, a camiseta a ganhou desde o principio, mas saimos na esperança de achar alguma melhor, Vamos pequena, deve ter outros modelos, mas naquela hora já sabia que após mil voltas você acabaria voltando naquela loja e levando aquela que vimos primeiro.
          De lá passariamos na loja de brinquedos, você parece inpaciente, como se quisesse vestir sua camiseta como uma criança com seu novo brinquedo e seu intusiamos é tão grande que tento demorar o mínimo possivel na lojs de brinquedos, é que aquele bonequinho do Chucky sempre me deixa animado, imagina se ele tivesse um sensor de movimento e cada vez que alguém passasse por ele, ele se mechesse, até pareceria de verdade, comento isso com o vendendor da loja e ele ri dizendo: nossas, as crianças iam se cagar de medo. Eu rio, mas penso: as crinças hoje em dia nem saberiam quem foi o Chucky. Saio da loja e você está ipnotizada por um live action do elvis, um bonequinho de cera, perfeita releitura daquele filme do Elvis curtindo todas no havai.
          E enquanto você cai de amores pelo boneco do Elvis eu ficaria encantado com uma versão deluxo do Tony montana de camiseta haviana, havanaclub de frente ao seu cadilac branco de bancos de estampa de tigre. E de repente você me tiraria do meu transe perguntando, Quem é esse, Como quem é esse, é o Tony montana, Antonio Montana eu faria com uma tentativa de sotaque caribenho. Você me fisgaria com um sorriso lindo, que eu entenderia que não é pra mim, mas pra sua nova descoberta, Quero um boneco daquele Elvis, penso até em te dar, mas desempregado não tenho nem onde cair morto, o que é uma pena, queria tanto ver esse sorriso no seu rosto mais vezes.
           E comento, Olha aquele boneco do Chucky, Ahn... que que tem, Ele é perfeito, Ahn... não gosto muito, Não, mas imagina se ele tivesse algum sensor de movimento e cada vez que alguém passasse por ele, ele levantasse a faca, ia parecer o do filme, será que tem algum assim. Você ri e diz não saber indiferente, seu Elvis é muito mais importante do que meu Chucky com sensor pra assustar as criançinhas.
           Sairiamos da loja e você parece animada, mas algo me incomoda, você está feliz, mas sei que é passageiro e me sinto impotente por saber que não posso te manter entorpecida assim pra sempre, mas nada é pra sempre, mas queria poder te ver feliz assim mais vezes, mas como, se eu mesmo sou incerto, triste e feliz ao mesmo tempo. Sinto vontade de pegar sua mão, mas me sinto infantil, e nessa hora vem aquela música na cabeça.....I've got sunshine on a cloudy day, e ao mesmo tempo me vem aquela música do Beatles, Is there anybody going to listen to my story...All about the girl who came to stay? She´s the kind of girl you want so much ,It makes you sorry ,Still you don´t regret a single day ,Ah girl! girl! girl! Que música essa você me pergunta, e ai vejo que estou pensando alto demais, Ah, sei lá, uma música dos Beatles, me veio na mente agora, penso em te contar daquela lenda urbana onde os pais falavam pros filhos que os brinquedos do fofão vinham com uma faca dentro inspiradas no Chucky, mas você nem gostou do meu Chucky e percebo que você segura o pacote com sua camiseta como se fosse sua nova epifania.
        Quando estamos saindo você diz que precisa ir no banheiro, enquanto você vai no banheiro eu paro numa lanchonete e peço uma cerveja, Posso fumar aqui, Pô grande, infelizmente não, é a lei, é uma porra né, perdi vários clientes por causa disso, mas é assim, infelizmente, Que isso cara, entendo, quanto é a cerveja, Cinco reais, lhe pago, abro minha cerveja e quando dou o primeiro gole você aparece, vestida com a camiseta que acabara de comprar e sua camiseta velha enrolada no braço,Que achou, eu riu, não gosto muito de camiseta de rock pretas, mas o preto combina com você, além de dar um contraste com sua pele de seda.
         Antes de te responder tenho pensamentos maliciosos e riu, Não gostou, você pergunta, Gostei, combina com você, mas seria ridiculo eu falar que nessa hora você poderia estar sem nada que eu te acharia linda.
       Devem ser rosas, me recalco, me sinto um animal retendo meus inpulsos, o que ela pensaria se soubesse que pensei isso, que ridiculo, é como se fosse pecado ter desejo, a carne, o tesão, aquela via crucis do corpo, como aquele livro da Clarisse que ela nunca leu, mas pra ela eu sou tão imoral e não sei, mas sinto, as vezes, que o meu verdadeiro eu é tudo o que ela abomina ou evita, meu eu drogado, bêbado, molherengo e eterno apaixonado pelas mulheres, como estou agora por ela. Sedento por desvenda-la como o maior enigma para um homem, de fazer uma mulher feliz, sem preconceitos, sem pudores e a te-lá, desde que ela me queira, até que nossas almas se completem na completude da carne, assim como o mito de Aristófanes, onde o ser hibrido masculino e femino por intriga dos deuses se transformou no homem e na mulher e após isso, ambos vivem eternamente em busca de sua outra metade.
      Mas eu sou a metade de nada, como você é e seu silêncio. E poderiamos ficar horas sem falar um A, o que pra você diria tudo e pra mim só geraria incertezas, e diversas horas de ses,mas já perdi a hora. Deito novamente na cama, você está com uma calça preta, uma camiseta estampada enquanto eu fumo nas escadarias da estação, algo me cutuca, me viro e é você, Já ia me dar um soco né e ri, Errei a entrada e tive que dar maior volta, faz tempo que está aqui, Não, conhece butô, está tendo uma encenação ali, Não conheço, É um tipo de dança cênica tragica japonesa, Não conheço, Vamos dar uma passada se você gostar a gente vê um pouco, você olha a apresentação com um olhar surpreso, mas percebo que aquilo não te prende.Vamos tomar um café, Vamos, atravessamos a rua eu te falo vagamenta da história da estação da Luz e sua decandencia com a decandencia do café, e sentamos numa padaria qualquer..... Olho para seus olhos e não vejo nada e me perco nesse azul profundo como o mar, no mar também há estrelas, não sei que correntezas há em tua tristeza, não sei o que há em você, mas sei que gosta de Clarisse, é tranquila, só que os olhos, esses olhos, esses olhos inquietos como as ondas que me afogam de ansiedade e me fazem tentar parar de olhar para essa maré, tua profundeza pode não dar pé.

10 de jun. de 2012

Lilita.


      Olho para seus olhos e não vejo nada e me perco nesse azul profundo como o mar, no mar também há estrelas, não sei que correntezas há em tua tristeza, não sei o que há em você, mas sei que gosta de Clarisse, é tranquila, só que os olhos, esses olhos, esses olhos inquietos como as ondas que me afogam de ansiedade e me fazem tentar parar de olhar para essa maré, tua profundeza pode não dar pé. Ás vezes a vida nunca dá, será que você já leu a biografia da Clarisse. Peço um suco, você tira os óculos suas pupilas se contraem, a maquiagem esconde a ressaca de seus sonhos,Olha, veio bastante, podemos dividir, Não quero, pode beber, não insisto mais, como inquieto com teu silêncio, mas você gosta disso. Atrás de mim passa um carro, você o vê eu não, mas o silêncio é quebrado.
      E enquanto como, falo, falo, falo, falo, museu, Jorge Amado, tristeza, suicídio, você, eu, silêncio. Fiz uma tatuagem, quer ver, pergunto tentando desconsertar teu silêncio. Sou barulhento e caótico, como as profundezas dos teus olhos.
     Quero, descubro o ombro e lhe mostro: Fé cega, faca amolada, você se aproxima, seus olhos perdem o feitiço e por um momento tornam-se analíticos, De onde é essa frase, me pergunta reencostando em sua cadeira. Uma música do Milton Nascimento,  gosta, você faz uma cara indecifrável e não insisto no assunto, Sabe, se a fé for cega a faca tem que estar amolada pra vida, isso é o que eu te digo, mas na mente me passa que não há fé e que a faca seja amolada da próxima vez, só que você não sabe ainda. Gostei, fez quando, Uns dias depois de surtar, Surtar como, fico sem jeito, pra mim é normal, para as pessoas, pessoas como eu são estranhas, Quer mesmo saber, Quero, mostro nos pulsos as chagas de minha aporia, você olha e não me julga, mas sinto que por dentro vê a faca rasgar meus pulsos cegamente, só não sabe o porque.
      O silêncio retorna, você demora, e então percebo, dividimos o vazio, por isso você gosta do silêncio, você demora mas pergunta, Porque, Sei lá, tantas coisas, isso te mostra a minha falta de sentido, e me entende, compartilhamos o nada, e isso é algo forte, e te faz sentir ternura por mim. Termino meu suco e levanto, acendo um cigarro, Vamos, Sim, você tem os movimentos lentos, não sei se é cautela ou se te falta vontade de seguir, não comigo, não ao museu, mas de seguir nesse vazio. Poderia lhe dar a mão, mas não temos intimidade, e seria evasivo demais, e destruiria nosso nada, seria um berro em seu silêncio. O sinal abre e os carros passam, não posso ouvir o que você disse, dou uma tragada, Gosta de Jorge Amado, Mais ou menos, nunca li muito dele, Ah eu piro, li vários, gosto muito. O sinal fecha e atravessamos a rua, preciso diminuir o passo para acompanhar teu ritmo, será essa tua elegância, e você vai, como se não soubesse à onde, por isso não há a pressa, ao contrario de mim, que pela falta de perspectiva vou a mil, falo, fumo, falo, falo, falo.
       Continuamos, você fala pouco, acendo um cigarro no outro, Quantos cigarros você fuma num dia, Sei lá, depende, abro a bolsa e tiro um livro, Tó, seu presente, fiz uma dedicatória, você folheia, mas evita a dedicatória, quer guardar a surpresa pra depois, mas fica curiosa, só que não tem pressa, entramos no museu, sou obrigado a deixar a bolsa, pegamos o elevador e subimos, Para o Jorge Amado, falamos ao condutor, Boa exposição.
      Olhamos parte por parte, eu te ensino o ABC de Jorge amado, dizendo não ter lido o ABC de Castro Alves, em uma das paredes há milhares de fitas, cada uma de uma cor, uma cruz e o selamento, fechando em si o nome de um personagem, eu conheço alguns, você poucos, mas eu não ligo, olhamos as fotos, Aquela é legal, Olha essa camiseta, Tenho uma parecida, Ai que fofa, Fofa né, e de repente você se alegra, tem o riso de Zelia, ou Lilita.
       Vou a frente, como sempre apressado, e devoro cada foto, de repente, tuas mãos de vidro me tocam, sinto um arrepio, perdi a intimidade com pessoas, e seu corpo estranho me ouriça, e rapidamente com as mãos em minhas costas, Licença..., Claro, fico tranquilo novamente, talvez sejamos parecidos, mas eu não gosto do vazio.
       Após vermos as fotos prosseguimos, mas o silêncio acaba, o lugar é sitiado por crianças e suas câmeras digitais, Sabe quem é essa, pergunto a uma menina, Não, olho pra você, olho para ela, E não quer saber, Ahn..., Essa é Iemanjá, a deusa dos mares, as ondas são as dobras do seu vestidos e  a renda de seu vestido quebra na espuma do mar. Você me olha, sorri, acho que não sabia também, a menina olha assustada e vai embora, fotografando tudo, e não levando nada. Pra quê as carrancas, Ah não sei ao certo, acho que é pra espantar mal olhado, tipo uma careta, e faço uma careta, Ahn... lá em casa tem um monte, eu sorrio.
         Olho no relógio, já é tarde, mas nem tanto, mas cansamos daquele barulho, mas ainda precisamos pegar uma fitinha de recordação, proteção, Essa tá meio solta, Então puxa, puxa, Calma, Puxa, Puxei, Enganchou, Ai saiu, Esconde, aê..., Lilita, quero uma dessa vermelha, tentamos, mas Lilita não te escolheu, são assim com os nomes, você consegue arrancar uma fita e enfia no bolso, Vamos ao banheiro ai aproveitamos e vemos quais são as fitinhas.
          Na saída, você parece mais feliz, E aê, João Galo Doido, É combina com você, E o seu, Ah um qualquer ai.
Se não era Lilita, era ninguém.
Te convido para uma cerveja, você não bebe, mas toma um copo, se  não Lilita, ninguém. Você se fecha, terminamos a cerveja e vamos embora, na estação, falo de amigos, de viagens, das loucuras, você só escuta, eu sou o excesso, você, não sei, uma esfinge, na despedida, te abraço, Obrigado por hoje, se não fosse isso ia ficar a tarde em casa chorando, Ah para, que isso, eu que agradeço a companhia, te dou um beijo no rosto e nos despedimos. Cada um pro seu canto, cada qual no seu vazio, embarco num trem, você em outro, mas esboço um sorriso, queria ter ficado mais, queria te ver de novo, mas me sinto inocente, juvenil, o trem parte.
           Me sinto inocente, seu trem já partiu, inocente, eu olho a paisagem e sorrio, odeio essa inocência, me sinto bobo, mas não mais vazio.

Recomeço do blog.

Aos pouquissimos, mas queridos leitores do meu blog, venho aqui dizer que tentarei voltar a postar com frequência, e que seja boa essa nova fase do blog e de nossas vidas.


Pra começar ou recomeçar:
Minas, Milton Nascimento

Minas, Milton Nascimento(1975)




Bom domingo a todos!

28 de jun. de 2011

Domingo na fruteira.

Ele permanecia deitado sobre os cobertores desarrumados, até o lençol, daqueles de elástico estava fora de lugar desnudando a beira do colchão de molas. Ela levantou-se num movimento reticente, nua, ele olhava suas costas brancas e reparava numa pinta ilhada em meio aquela maciez, e mentalmente lhe dava um nome.

Ela recolhe a calcinha jogada ao chão abraçada à calça tirada as pressas e a vestia, e pelo espelho ele via os seus seios pequenos, e aquela cena o fazia rir e então ele levantava-se e a abraçava por trás, batizando sua ilha particular com um leve beijo e ria quase ciente de que era felicidade que havia em si, pelo espelho ela via seu sorriso de menino e perguntava:

_ O que foi?

_ Nada não, ele ainda respondia rindo.

Ele senta-se mais uma vez e permanece na beirada da cama, atrás dela lhe fazendo cócegas na bunda com a ponta dos dedos, o sol tenta lhes invadir a intimidade pelas frestas da porta, enquanto ele distrai-se mentalmente pensando num nome pra pinta e pelo quê substituir o cd que repetiu-se infinitas vezes pela noite, ela pega o sutiã no outro extremo da cama e o coloca com os bojos para as costas e pelo reflexo do espelho ele vê ela abotoar o feixe moderno da roupa que ele teve dificuldades de retirar na noite anterior e lembra dela rindo dizer “esse é diferente, é assim ó” enquanto desnudava-se lhe ensinando como funcionava o feixe.

E com um movimento rápido e sereno ela vira o sutiã lhe cobrindo os seios lhe diz:

_ Pára de olhar!

_ Porque? Ele pergunta enquanto desvia o olhar dela em busca de cigarro, e em que play colocar pensando em algo com cara de domingo.

_ Porque eu queria ter peitos maiores.

Ele ri.

_ Gosto deles mesmo assim! E acende um cigarro enquanto ensaia abrir a janela para aliviar o cheiro de fumaça no quarto, mas desiste, quer o quarto só para os dois. Dá umas tragadas e bate o cigarro numa lata meio cheia que estava no chão e lhe oferece o cigarro, mas ela está de mãos ocupadas colocando a camiseta, ele espera sua cabeça sair sobre a gola como um animal da toca e lhe segura o cigarro entre os lábios, ela dá uma tragada e ele volta a sentar-se, enquanto ela passa o braço pelas mangas.

Pelo reflexo do espelho ele a vê a olhar-se e imagina ela analisando suas olheiras de pandas causadas pela maquiagem borrada e os cabelos grudados a testa pelo suor. Ele a puxa pela cintura fazendo a cair sobre seu colo, ela vira-se para ele e ela a beija enquanto o sol invade mais o quarto e a música continua a repetir-se alheia a eles.

E entre beijos os dois deitam inocentes ao mundo lá fora e invadem-se sem violência, com as bocas cruzadas a confundirem-se entre si e desnudando o resto do colchão que é testemunha de tudo aquilo.

E ele já não pensa mais no player a repetir-se e ela esquece do sutiã, já deitado de novo ao chão esperando por a abraçar mais uma vez, mas quando, sabe lá em qual domingo.

E até o sol esconde-se nas nuvens os deixando em paz, um no outro, cheios de um sentimento gostoso e doce de sei lá o quê!

8 de jun. de 2011

O primeiro amor.

Eu estava num dia daqueles, já eram quase 4 horas da tarde e eu ainda não havia almoçado porque haviam roubado o microondas do refeitório. E tive que me contentar com um pacotinho de bolachas água e sal e um refrigerante diet, que era o único que tinha gelado na cantina.

E toda vez que minha barriga roncava lembrava que a comida devia estar com o fundo duro e gelado no fundo da marmita, e o feijão devia estar aquela pasta dura que só. Entrei na sala de aula e comecei minha aula.

Após quase meia hora consegui fazer a chamada e reparei que já havia perdido um tanto considerável da aula, resolvi presentear meus alunos com uma aula livre enquanto corrigia umas atividades que estavam pendentes.

A sala manteve-se na sua zorra cotidiana, mas contida e eu corrigindo as atividades, faminto.

De repente um dos alunos aproximou-se de minha mesa e ficou me olhando, com aquele olhar de quem pede licença pra falar, ele não pediu licença, mas seu olhos pediam e a gente começa a sentir aqueles olhos olhando pros olhos da gente e não conseguimos mais manter a atenção, e eles continuam até serem notados.

Parei de corrigir as atividades por uns instantes e perguntei se ele precisava de alguma coisa.

Ele fez que não com a cabeça e continuou me pedindo atenção com os olhos, voltei a corrigir as atividades, mas agora sentia ele em cima de mim, fechei as atividades e perguntei mais uma vez se ele desejava algo ou se poderia ajudá-lo em alguma coisa.

Ele se aproximou timidamente e me perguntou se poderia me fazer uma pergunta, na dúvida da resposta que a pergunta carregaria lhe disse que dependia de qual fosse a pergunta e pedi que a fizesse para saber se a responderia ou não, mesmo sabendo que independente da pergunta que ele me fizesse minha reação a ela já esboçaria uma resposta, o que me obrigaria a respondê-la de fato.

Ele me disse que era muito importante, mas que tinha vergonha de me dizer o que era, lhe respondi que sem saber sobre o que seria não teria como ajudá-lo. Ele abaixou a cabeça e coçou levemente a nuca e voltou para seu lugar.

Tentei voltar a corrigir as atividades, mas a dúvida da pergunta agora fazia parte de mim e eu estava mais necessitado de saber algo do que ele.

Guardei minha coisas e fiquei encorajando ele com os olhos a vir por fim me perguntar seja o que fosse que lhe incomodava, mas ele parecia imerso numa folha de papel rabiscando algo com seus poucos anos de idade.

Após alguns minutos ele terminou de rabiscar algo no caderno e arrancou sua confissão junto a folha e levantou-se da cadeira, disfarcei que o observava e me dissimulei rabiscando algum papel qualquer que estava sobre minha mesa.

Ele veio novamente em minha direção e me cutucou gentilmente no ombro.

_ Tó professor, lê e me responde, mas não deixa ninguém ver.

Eu abri o papel e o li com toda cumplicidade. Ao terminar de ler, detive meu riso, não sabia se ria pelo enunciado ou pela minha falta de resposta a simples pergunta contida no papel.

“O que fazemos quando gostamos de alguém?”

Disfarçadamente lhe respondi que dependia, pois dependia de quem era o amado, mas minha resposta não o satisfez e ele saiu emburrado não me dando mais ouvidos e resmungando que eu de nada sabia da vida, e eu fiquei com um riso besta no rosto sem saber o que responder, me sentindo tão infantil quanto ele.

Ele voltou para seu lugar e como se nada tivesse acontecido voltou a rabiscar qualquer desenho num papel. E eu relia a pergunta tentando respondê-la para mim mesmo.

“O que fazemos quando gostamos de alguém?”