10 de jun. de 2012

Lilita.


      Olho para seus olhos e não vejo nada e me perco nesse azul profundo como o mar, no mar também há estrelas, não sei que correntezas há em tua tristeza, não sei o que há em você, mas sei que gosta de Clarisse, é tranquila, só que os olhos, esses olhos, esses olhos inquietos como as ondas que me afogam de ansiedade e me fazem tentar parar de olhar para essa maré, tua profundeza pode não dar pé. Ás vezes a vida nunca dá, será que você já leu a biografia da Clarisse. Peço um suco, você tira os óculos suas pupilas se contraem, a maquiagem esconde a ressaca de seus sonhos,Olha, veio bastante, podemos dividir, Não quero, pode beber, não insisto mais, como inquieto com teu silêncio, mas você gosta disso. Atrás de mim passa um carro, você o vê eu não, mas o silêncio é quebrado.
      E enquanto como, falo, falo, falo, falo, museu, Jorge Amado, tristeza, suicídio, você, eu, silêncio. Fiz uma tatuagem, quer ver, pergunto tentando desconsertar teu silêncio. Sou barulhento e caótico, como as profundezas dos teus olhos.
     Quero, descubro o ombro e lhe mostro: Fé cega, faca amolada, você se aproxima, seus olhos perdem o feitiço e por um momento tornam-se analíticos, De onde é essa frase, me pergunta reencostando em sua cadeira. Uma música do Milton Nascimento,  gosta, você faz uma cara indecifrável e não insisto no assunto, Sabe, se a fé for cega a faca tem que estar amolada pra vida, isso é o que eu te digo, mas na mente me passa que não há fé e que a faca seja amolada da próxima vez, só que você não sabe ainda. Gostei, fez quando, Uns dias depois de surtar, Surtar como, fico sem jeito, pra mim é normal, para as pessoas, pessoas como eu são estranhas, Quer mesmo saber, Quero, mostro nos pulsos as chagas de minha aporia, você olha e não me julga, mas sinto que por dentro vê a faca rasgar meus pulsos cegamente, só não sabe o porque.
      O silêncio retorna, você demora, e então percebo, dividimos o vazio, por isso você gosta do silêncio, você demora mas pergunta, Porque, Sei lá, tantas coisas, isso te mostra a minha falta de sentido, e me entende, compartilhamos o nada, e isso é algo forte, e te faz sentir ternura por mim. Termino meu suco e levanto, acendo um cigarro, Vamos, Sim, você tem os movimentos lentos, não sei se é cautela ou se te falta vontade de seguir, não comigo, não ao museu, mas de seguir nesse vazio. Poderia lhe dar a mão, mas não temos intimidade, e seria evasivo demais, e destruiria nosso nada, seria um berro em seu silêncio. O sinal abre e os carros passam, não posso ouvir o que você disse, dou uma tragada, Gosta de Jorge Amado, Mais ou menos, nunca li muito dele, Ah eu piro, li vários, gosto muito. O sinal fecha e atravessamos a rua, preciso diminuir o passo para acompanhar teu ritmo, será essa tua elegância, e você vai, como se não soubesse à onde, por isso não há a pressa, ao contrario de mim, que pela falta de perspectiva vou a mil, falo, fumo, falo, falo, falo.
       Continuamos, você fala pouco, acendo um cigarro no outro, Quantos cigarros você fuma num dia, Sei lá, depende, abro a bolsa e tiro um livro, Tó, seu presente, fiz uma dedicatória, você folheia, mas evita a dedicatória, quer guardar a surpresa pra depois, mas fica curiosa, só que não tem pressa, entramos no museu, sou obrigado a deixar a bolsa, pegamos o elevador e subimos, Para o Jorge Amado, falamos ao condutor, Boa exposição.
      Olhamos parte por parte, eu te ensino o ABC de Jorge amado, dizendo não ter lido o ABC de Castro Alves, em uma das paredes há milhares de fitas, cada uma de uma cor, uma cruz e o selamento, fechando em si o nome de um personagem, eu conheço alguns, você poucos, mas eu não ligo, olhamos as fotos, Aquela é legal, Olha essa camiseta, Tenho uma parecida, Ai que fofa, Fofa né, e de repente você se alegra, tem o riso de Zelia, ou Lilita.
       Vou a frente, como sempre apressado, e devoro cada foto, de repente, tuas mãos de vidro me tocam, sinto um arrepio, perdi a intimidade com pessoas, e seu corpo estranho me ouriça, e rapidamente com as mãos em minhas costas, Licença..., Claro, fico tranquilo novamente, talvez sejamos parecidos, mas eu não gosto do vazio.
       Após vermos as fotos prosseguimos, mas o silêncio acaba, o lugar é sitiado por crianças e suas câmeras digitais, Sabe quem é essa, pergunto a uma menina, Não, olho pra você, olho para ela, E não quer saber, Ahn..., Essa é Iemanjá, a deusa dos mares, as ondas são as dobras do seu vestidos e  a renda de seu vestido quebra na espuma do mar. Você me olha, sorri, acho que não sabia também, a menina olha assustada e vai embora, fotografando tudo, e não levando nada. Pra quê as carrancas, Ah não sei ao certo, acho que é pra espantar mal olhado, tipo uma careta, e faço uma careta, Ahn... lá em casa tem um monte, eu sorrio.
         Olho no relógio, já é tarde, mas nem tanto, mas cansamos daquele barulho, mas ainda precisamos pegar uma fitinha de recordação, proteção, Essa tá meio solta, Então puxa, puxa, Calma, Puxa, Puxei, Enganchou, Ai saiu, Esconde, aê..., Lilita, quero uma dessa vermelha, tentamos, mas Lilita não te escolheu, são assim com os nomes, você consegue arrancar uma fita e enfia no bolso, Vamos ao banheiro ai aproveitamos e vemos quais são as fitinhas.
          Na saída, você parece mais feliz, E aê, João Galo Doido, É combina com você, E o seu, Ah um qualquer ai.
Se não era Lilita, era ninguém.
Te convido para uma cerveja, você não bebe, mas toma um copo, se  não Lilita, ninguém. Você se fecha, terminamos a cerveja e vamos embora, na estação, falo de amigos, de viagens, das loucuras, você só escuta, eu sou o excesso, você, não sei, uma esfinge, na despedida, te abraço, Obrigado por hoje, se não fosse isso ia ficar a tarde em casa chorando, Ah para, que isso, eu que agradeço a companhia, te dou um beijo no rosto e nos despedimos. Cada um pro seu canto, cada qual no seu vazio, embarco num trem, você em outro, mas esboço um sorriso, queria ter ficado mais, queria te ver de novo, mas me sinto inocente, juvenil, o trem parte.
           Me sinto inocente, seu trem já partiu, inocente, eu olho a paisagem e sorrio, odeio essa inocência, me sinto bobo, mas não mais vazio.

2 comentários:

Anônimo disse...

queria um conto que falasse sobre mim, você me disse que tinha escrito algo, mas nunca me mostrou...fico curiosa. Quero te entregar os discos...me liga.

Anônimo disse...

gostei mto =]