8 de jun. de 2011

O primeiro amor.

Eu estava num dia daqueles, já eram quase 4 horas da tarde e eu ainda não havia almoçado porque haviam roubado o microondas do refeitório. E tive que me contentar com um pacotinho de bolachas água e sal e um refrigerante diet, que era o único que tinha gelado na cantina.

E toda vez que minha barriga roncava lembrava que a comida devia estar com o fundo duro e gelado no fundo da marmita, e o feijão devia estar aquela pasta dura que só. Entrei na sala de aula e comecei minha aula.

Após quase meia hora consegui fazer a chamada e reparei que já havia perdido um tanto considerável da aula, resolvi presentear meus alunos com uma aula livre enquanto corrigia umas atividades que estavam pendentes.

A sala manteve-se na sua zorra cotidiana, mas contida e eu corrigindo as atividades, faminto.

De repente um dos alunos aproximou-se de minha mesa e ficou me olhando, com aquele olhar de quem pede licença pra falar, ele não pediu licença, mas seu olhos pediam e a gente começa a sentir aqueles olhos olhando pros olhos da gente e não conseguimos mais manter a atenção, e eles continuam até serem notados.

Parei de corrigir as atividades por uns instantes e perguntei se ele precisava de alguma coisa.

Ele fez que não com a cabeça e continuou me pedindo atenção com os olhos, voltei a corrigir as atividades, mas agora sentia ele em cima de mim, fechei as atividades e perguntei mais uma vez se ele desejava algo ou se poderia ajudá-lo em alguma coisa.

Ele se aproximou timidamente e me perguntou se poderia me fazer uma pergunta, na dúvida da resposta que a pergunta carregaria lhe disse que dependia de qual fosse a pergunta e pedi que a fizesse para saber se a responderia ou não, mesmo sabendo que independente da pergunta que ele me fizesse minha reação a ela já esboçaria uma resposta, o que me obrigaria a respondê-la de fato.

Ele me disse que era muito importante, mas que tinha vergonha de me dizer o que era, lhe respondi que sem saber sobre o que seria não teria como ajudá-lo. Ele abaixou a cabeça e coçou levemente a nuca e voltou para seu lugar.

Tentei voltar a corrigir as atividades, mas a dúvida da pergunta agora fazia parte de mim e eu estava mais necessitado de saber algo do que ele.

Guardei minha coisas e fiquei encorajando ele com os olhos a vir por fim me perguntar seja o que fosse que lhe incomodava, mas ele parecia imerso numa folha de papel rabiscando algo com seus poucos anos de idade.

Após alguns minutos ele terminou de rabiscar algo no caderno e arrancou sua confissão junto a folha e levantou-se da cadeira, disfarcei que o observava e me dissimulei rabiscando algum papel qualquer que estava sobre minha mesa.

Ele veio novamente em minha direção e me cutucou gentilmente no ombro.

_ Tó professor, lê e me responde, mas não deixa ninguém ver.

Eu abri o papel e o li com toda cumplicidade. Ao terminar de ler, detive meu riso, não sabia se ria pelo enunciado ou pela minha falta de resposta a simples pergunta contida no papel.

“O que fazemos quando gostamos de alguém?”

Disfarçadamente lhe respondi que dependia, pois dependia de quem era o amado, mas minha resposta não o satisfez e ele saiu emburrado não me dando mais ouvidos e resmungando que eu de nada sabia da vida, e eu fiquei com um riso besta no rosto sem saber o que responder, me sentindo tão infantil quanto ele.

Ele voltou para seu lugar e como se nada tivesse acontecido voltou a rabiscar qualquer desenho num papel. E eu relia a pergunta tentando respondê-la para mim mesmo.

“O que fazemos quando gostamos de alguém?”

2 comentários:

Ingrid Burger disse...

MUITO BOA! sabe q eu não elogio pra agradar né? haha gostei de verdade dessa...

Jéssica Máximo disse...

Curti mil vezes *-*
estava com saudades de ler isso aqui de novo, finalmente tive um tempinho haha.